sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Sola Scriptura: a farsa desmascarada PARTE 05



6ª dúvida: “E eu, irmãos, apliquei essas coisas, por semelhança, a mim e a Apolo, por amor de vós, para que, em nós, aprendais a não ir além do que está escrito, não vos ensoberbecendo a favor de um contra outro.” (1 Cor 4,6)
Resposta: Esse texto também não favorece a Sola Scriptura, pois o mesmo S. Paulo que disse isso também disse:”Quisera agora estar presente entre vós e variar [os tons da] minha voz, pois não sei o que fazer com vós” (Gál 4,20). Se o fato de o apóstolo dizer que os coríntios não deviam ir além do que está escrito provasse a Sola Scriptura, então, ao dizer que sua presença é mais eficaz do que o escrito o apóstolo estaria afirmando a Sola Traditione. Além disso, se com tais palavras o apóstolo pretendesse provar a exclusividade de algo, provaria apenas a exclusividade do AT e de alguns pouquíssimos escritos do NT (uns 3), que eram os únicos escritos dos anos 55 d.c, provável data da redação dessa carta. Estaria, então o apóstolo excluindo todo o resto de seus escritos? E o pior, estaria ele excluindo os outros livros do NT?
Além disso, não esqueçamos a expressão: “para que, em nós, aprendais”, presente no versículo citado, a qual prova que a autoridade do apóstolo também é regra de fé. Está explícito aí que aquilo que dizem ou que fazem os apóstolos deve ser seguido. Logo, o texto não favorece a Sola Scriptura.
Raciocinemos ainda: será que os coríntios entenderam essas palavras de Paulo como a enunciação da exclusividade da Escritura de que dispunham na época? Paulo escreveu 1 Coríntios em meados de 55 d.c. Muito antes do cânon do NT ser escrito e fixado. Como, então defendeu aqui o apóstolo essa tal de Sola Scriptura? Mais grave: você acha que o apóstolo pretendeu convencer os coríntios de que os escritos da época deles era a verdade exclusiva de Deus? Se for assim, como Paulo conseguiu convencer depois esses mesmos coríntios que os escritos que vieram depois também eram palavras de Deus? Não dissera ele antes que apenas aquilo que tinha surgido até 55 d.c é que era Palavra divina? Como é que agora vem convencê-los de que surgira mais palavras inspiradas? Mais ainda: como é que depois de 55 d.c tem esse apóstolo a coragem de exortar os fiéis a seguirem suas pregações orais (1,13-14; 2,2 e 3,14) se só foi aceitável os escritos, e ainda pior, anteriores a essa data?
Logo, esse texto também não favorece a pretensão sola scripturista.
Mas alguém poderia alegar aqui que em todos esses textos citados, o Espírito Santo já está prevendo o futuro fechamento do cânon bíblico. Logo, eles não podem se referir apenas aos livros nos quais estão redigidos, mas à Escritura inteira. Entretanto, convém observarmos que mesmo referindo-se ao futuro, o que não descartamos, todos eles têm aplicação direta no período em que foram escritos. Assim, por exemplo, nesse texto citado de 1 Cor 4,6, não podemos entendê-lo corretamente, se dispensarmos o contexto no qual essa carta foi escrita. Paulo jamais poderia estar se referindo diretamente à Escritura inteira, se claramente ele está escrevendo para a comunidade de Corinto e estava doutrinando essa comunidade. É óbvio, pois, que o texto aplica-se diretamente à essa comunidade. Não há, então, como entender o texto desconsiderando esse detalhe. Sendo, assim, é necessário indagarmos o que pretendia Paulo ensinar com aquelas palavras bem como nos questionar como a comunidade acolheu e entendeu aquele ensino.
Consequências da Sola Scriptura
Lamentavelmente a Sola Scriptura é a grande responsável por toda essa confusão no seio protestante; é a responsável por essa imensa pluralidade de igrejas. Em vez de ter trazido a paz e a concórdia entre os irmãos, trouxe foi a divisão. E a divisão e o denominacionalismo, como todos sabemos, são vigorosamente condenados na própria Escritura. Leia, por exemplo, Rm 16, 17; Gl 5, 20; Ef 4, 2-5. Desde o advento da Sola Scriptura e da sua consequente interpretação particular da Escritura, o Cristianismo só fez se fragmentar. E isso é um tremendo mal. Certa vez, num desabafo, um pastor protestante chegou a dizer que fizeram da Palavra de Deus a mãe das heresias. É triste dizer isso, mas é a pura realidade. No entanto, fazemos questão de enfatizar aqui que a Bíblia não pode ser a mãe das heresias. Ela deve ser lida com amor, em espírito de oração e não para gerar intrigas. Essa divisão é tão chocante que muitos dos próprios evangélicos não se conformam e, não raro, desabafam o seu desagravo.
Veja o que reconhecem alguns Evangélicos sobre a divisão no seio cristão:
Calvino escrevia numa carta a Melanchton: “É de grande importância que não passe aos séculos vindouros nenhuma suspeita sobre as divisões que existem entre nós, porque é ridículo, acima de quanto se possa imaginar, que depois de ter rompido com todo o mundo, nós estejamos em tão pouco de acordo desde o início da Reforma.”
O mesmo Melanchton dizia: “O rio Elba com todas as suas águas não nos forneceria lágrimas suficientes para chorar as desgraças da Reforma dividida.”
Em 1925, na Review of the churches, o protestante R. Roberts já lamentava: “Pela sua acentuada tendência individualista, o movimento protestante teve uma tendência cissípara; a sua história é uma história de contínuas divisões e subdivisões, a ponto de o número de seitas se ter tornado e ser ainda escândalo e objeto de mofa para todos.” (cissípara= reprodução mediante cisão do próprio organismo).
Na International Review of missions, de janeiro de 1928, o Bispo anglicano de Bombaim, dizia: “Nós poderíamos poder dizer aos pagãos: Aqui está a Igreja de Cristo; porém, nossas divisões dão um desmentido. O Protestantismo professa opiniões contraditórias e as que são falsas deveriam ser rechaçadas, não só por amor à união, como por respeito à verdade. Em Lausanne os delegados não ousaram tomar sobre si a responsabilidade de dizer em nome de suas seitas: Estávamos no erro. De uma conferência deste gênero não poderá nunca surgir a união das igrejas.”
Em 1930, era a vez da revista protestante Student Volunter Bulletin fazer o seguinte lamento: ”A situação fragmentária de nossas igrejas é para muitos o argumento final de que o Protestantismo não pode dar-lhes a paz e unidade que eles buscam para as suas almas. Não é exagerado afirmar que para o latino acostumado à unidade de Religião e de governo o escândalo da multidão de seitas é fatal.” (Março de 1930).
Mr. Browning também disse no livro New Days in latin America, p. 176: “Quando os católicos nos apontam as 50 e mais seitas que se esforçam em introduzir o Evangelho na América Latina, o protestante não pode fazer outra coisa senão calar e admitir a força do argumento.”
Também dizia o Arcebispo anglicano de Cantuária na revista The Month de julho de 1932: “Todos deviam reconhecer sua culpabilidade na divisão do Corpo de Cristo, divisão esta que é contrária à vontade de Deus.”
Van Baalen, escritor da igreja Batista, no livro O caos das Seitas reconheceu: “Na verdade, os inimigos da fé evangélica não se têm cansado de lembrar-nos que o Protestantismo jaz prostrado e sem poder, em razão de suas muitas divisões e subdivisões. Sem dúvida existem partidos e divisões em demasia ─ grupos e denominações inumeráveis. Tudo isso é a grande vergonha do mundo cristão.” (Imprensa publicadora Batista regular, S. Paulo.3ª edição brasileira, 1977, p. 277).
Venâncio R. Santos, da Assembléia de Deus, no jornal Mensageiro da paz, nº 1208/1212, de dezembro de 1987, na p. 13, quando tratou do “ministério da reconciliação” nas igrejas protestantes disse: ” Fiquei realmente apreensivo, levando em consideração o fato de que muitos ministros do Evangelho pouco ou nada estão fazendo em prol das reconciliações ao longo da seara do Mestre. Ao contrário, muitos têm promovido desintegrações fraternas, semeando a discórdia e patrocinando a maledicência, dividindo os filhos de Deus.” Mais adiante, ele conclui assim o seu artigo: “Lamentavelmente, é o que mais se vê hoje, nas ações evangelísticas: a fundação de igrejas, ultrajando o corpo de Cristo, profanando o seu precioso sangue e sacrificando o amor e a paz sobre o insensato altar do egoísmo, em estúpido atentado contra a fraternidade cristã.”
O pior é que nem Venâncio, nem nenhum outro protestante, pode criticar uma nova denominação que surge porque a dele também é fruto dessa divisão e também porque ninguém pode garantir no Protestantismo quem está certo ou errado.
O pastor pentecostal Juan Carlos Ortiz, no livro O Discípulo, dizia: “ Outra evidência desta infância são as divisões que há na Igreja. Paulo disse aos crentes de Corinto que o fato de uns se apegarem a Pedro, a Apolo e a ele próprio era sinal de imaturidade espiritual. Os coríntios estavam brigando entre si. Eram partidários cada um de um pregador. Mas pelo menos estavam na mesma Igreja.
Em nossa época, nós não conseguimos nem divergir bem. Pertencemos aos mais diversos grupos e nos reunimos em templos separados, e falamos mal um dos outros. Se os coríntios eram bebês em Cristo, nós nem nascemos ainda.
Em vez de melhorarmos estamos piorando. A cada ano que passa, existem mais denominações. O corpo de Cristo nunca esteve tão repartido.”
Na p. 115 pergunta: “Qual é o nosso motivo para crucificar, ferir e dividir o corpo (a Igreja)? Não o temos, e nosso castigo por fazermos tal coisa será mais severo que o de Pilatos e Judas.”
Na p. 132 afirma ainda: “Não obstante o que a Bíblia ensina, também nós os protestantes temos as nossas tradições: as denominações. Jesus tem somente uma esposa, a Igreja. Ele não é polígamo. No entanto, chegamos até a dizer que as denominações fazem parte da vontade de Deus. Assim nós culpamos a Deus pelas nossas divisões e falta de amor. E depois criticamos os Católicos pelas suas tradições. Pelo menos suas tradições são mais antigas que as nossas.” (O discípulo, p.132, Editora Betânia)
A verdade é que ao abandonar tanto a Tradição quanto o Magistério, o Protestantismo provocou sua própria fragmentação. E hoje, infelizmente, o “Protestantismo” abarca mais de 30.000 mil denominações doutrinária e disciplinadamente discordes entre si, causando um flagrante escândalo ao claro desejo de Jesus Cristo: a unidade de todos os cristãos (Jo 17, 20-21).
Os evangélicos afirmam que a Bíblia é sua única fonte de fé. Na verdade, porém, a sua única fonte de fé é a sua própria cabeça. Usam a Bíblia apenas para justificarem suas crenças, e, nisso, não se dão conta das infinitas incoerências e contradições a que se submetem.
O Protestantismo combate o poder infalível da Igreja, e proclama a infalibilidade individual de cada “crente”, gerando aí o “jesus” da minha imagem e semelhança. O orgulho humano preferiu criar um “jesus” à sua imagem e semelhança a aceitar Nosso Senhor Jesus Cristo, cujas palavras são às vezes duras de ouvir (Jo 6, 61). Essa idolatria (não há realmente outro nome para a adoração de uma criação humana) é infelizmente a marca do livre-exame.
Em nome dessa libertinagem relacionada às Sagradas Escrituras surgem, no Protestantismo, defensores das mais variadas doutrinas. Já surgiram denominações até para homossexuais! A igreja evangélica Sino de Belém e a Acalanto são defensoras dessa prática. Assim, tal libertinagem, infelizmente, cria espaço para as doutrinas mais absurdas possíveis.
No começo do século XX, o Reverendíssimo Pe. Leonel Franca já chamava a atenção para esta triste divisão protestante, baseada no método da Sola Scriptura e do livre exame: “Na nova seita (protestantismo) não há autoridade, não há unidade, não há magistério de fé. Cada sectário recebe um livro que o livreiro lhe diz ser inspirado e ele devotamente o crê sem o poder demonstrar; lê-o, entende-o como pode, enuncia um símbolo, formula uma moral e a toda esta mais ou menos indigesta elaboração individual chama cristianismo evangélico. O vizinho repete na mesma ordem as mesmas operações e chega a conclusões dogmáticas e morais diametralmente opostas. Não importa; são irmãos, são protestantes evangélicos, são cristãos, partiram ambos da Bíblia, ambos forjaram com o mesmo esforço o seu cristianismo” ( In I.R.C. Pg. 212 , 7ª ed.).
Obviamente por causa dessa enorme divisão protestante, o método do apenas “lê a Bíblia” tem surtido efeito contrário. O indivíduo fica incapaz, de fato, de chegar à verdade no sistema protestante. Ele lê a Bíblia individualmente e apenas surgirá com outra doutrina inovadora, a qual entrará na coleção de doutrinas do Protestantismo. Se fosse verdade a clareza das Escrituras, então haveria apenas uma igreja protestante; no entanto, a divisão é infindável.

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