6ª dúvida: “E eu, irmãos, apliquei essas coisas, por
semelhança, a mim e a Apolo, por amor de vós, para que, em nós, aprendais a não
ir além do que está escrito, não vos ensoberbecendo a favor de um contra
outro.” (1 Cor 4,6)
Resposta: Esse texto também não favorece a Sola Scriptura,
pois o mesmo S. Paulo que disse isso também disse:”Quisera agora estar presente
entre vós e variar [os tons da] minha voz, pois não sei o que fazer com vós”
(Gál 4,20). Se o fato de o apóstolo dizer que os coríntios não deviam ir além
do que está escrito provasse a Sola Scriptura, então, ao dizer que sua presença
é mais eficaz do que o escrito o apóstolo estaria afirmando a Sola Traditione.
Além disso, se com tais palavras o apóstolo pretendesse provar a exclusividade
de algo, provaria apenas a exclusividade do AT e de alguns pouquíssimos
escritos do NT (uns 3), que eram os únicos escritos dos anos 55 d.c, provável
data da redação dessa carta. Estaria, então o apóstolo excluindo todo o resto
de seus escritos? E o pior, estaria ele excluindo os outros livros do NT?
Além disso, não esqueçamos a expressão: “para que,
em nós, aprendais”, presente no versículo citado, a qual prova que a autoridade
do apóstolo também é regra de fé. Está explícito aí que aquilo que dizem ou que
fazem os apóstolos deve ser seguido. Logo, o texto não favorece a Sola
Scriptura.
Raciocinemos ainda: será que os coríntios
entenderam essas palavras de Paulo como a enunciação da exclusividade da
Escritura de que dispunham na época? Paulo escreveu 1 Coríntios em meados de 55
d.c. Muito antes do cânon do NT ser escrito e fixado. Como, então defendeu aqui
o apóstolo essa tal de Sola Scriptura? Mais grave: você acha que o apóstolo
pretendeu convencer os coríntios de que os escritos da época deles era a
verdade exclusiva de Deus? Se for assim, como Paulo conseguiu convencer depois
esses mesmos coríntios que os escritos que vieram depois também eram palavras
de Deus? Não dissera ele antes que apenas aquilo que tinha surgido até 55 d.c é
que era Palavra divina? Como é que agora vem convencê-los de que surgira mais
palavras inspiradas? Mais ainda: como é que depois de 55 d.c tem esse apóstolo
a coragem de exortar os fiéis a seguirem suas pregações orais (1,13-14; 2,2 e
3,14) se só foi aceitável os escritos, e ainda pior, anteriores a essa data?
Logo, esse texto também não favorece a pretensão
sola scripturista.
Mas alguém poderia alegar aqui que em todos esses
textos citados, o Espírito Santo já está prevendo o futuro fechamento do cânon
bíblico. Logo, eles não podem se referir apenas aos livros nos quais estão
redigidos, mas à Escritura inteira. Entretanto, convém observarmos que mesmo
referindo-se ao futuro, o que não descartamos, todos eles têm aplicação direta
no período em que foram escritos. Assim, por exemplo, nesse texto citado de 1
Cor 4,6, não podemos entendê-lo corretamente, se dispensarmos o contexto no
qual essa carta foi escrita. Paulo jamais poderia estar se referindo
diretamente à Escritura inteira, se claramente ele está escrevendo para a
comunidade de Corinto e estava doutrinando essa comunidade. É óbvio, pois, que
o texto aplica-se diretamente à essa comunidade. Não há, então, como entender o
texto desconsiderando esse detalhe. Sendo, assim, é necessário indagarmos o que
pretendia Paulo ensinar com aquelas palavras bem como nos questionar como a
comunidade acolheu e entendeu aquele ensino.
Consequências da Sola Scriptura
Lamentavelmente a Sola Scriptura é a grande
responsável por toda essa confusão no seio protestante; é a responsável por
essa imensa pluralidade de igrejas. Em vez de ter trazido a paz e a concórdia
entre os irmãos, trouxe foi a divisão. E a divisão e o denominacionalismo, como
todos sabemos, são vigorosamente condenados na própria Escritura. Leia, por
exemplo, Rm 16, 17; Gl 5, 20; Ef 4, 2-5. Desde o advento da Sola Scriptura e da
sua consequente interpretação particular da Escritura, o Cristianismo só fez se
fragmentar. E isso é um tremendo mal. Certa vez, num desabafo, um pastor
protestante chegou a dizer que fizeram da Palavra de Deus a mãe das heresias. É
triste dizer isso, mas é a pura realidade. No entanto, fazemos questão de
enfatizar aqui que a Bíblia não pode ser a mãe das heresias. Ela deve ser lida
com amor, em espírito de oração e não para gerar intrigas. Essa divisão é tão
chocante que muitos dos próprios evangélicos não se conformam e, não raro,
desabafam o seu desagravo.
Veja o que reconhecem alguns Evangélicos sobre a
divisão no seio cristão:
Calvino escrevia numa carta a Melanchton: “É de
grande importância que não passe aos séculos vindouros nenhuma suspeita sobre
as divisões que existem entre nós, porque é ridículo, acima de quanto se possa
imaginar, que depois de ter rompido com todo o mundo, nós estejamos em tão
pouco de acordo desde o início da Reforma.”
O mesmo Melanchton dizia: “O rio Elba com todas as
suas águas não nos forneceria lágrimas suficientes para chorar as desgraças da
Reforma dividida.”
Em 1925, na Review of the churches, o protestante
R. Roberts já lamentava: “Pela sua acentuada tendência individualista, o
movimento protestante teve uma tendência cissípara; a sua história é uma
história de contínuas divisões e subdivisões, a ponto de o número de seitas se
ter tornado e ser ainda escândalo e objeto de mofa para todos.” (cissípara=
reprodução mediante cisão do próprio organismo).
Na International Review of missions, de janeiro de 1928, o Bispo anglicano de Bombaim, dizia: “Nós poderíamos poder dizer aos pagãos: Aqui está a Igreja de Cristo; porém, nossas divisões dão um desmentido. O Protestantismo professa opiniões contraditórias e as que são falsas deveriam ser rechaçadas, não só por amor à união, como por respeito à verdade. Em Lausanne os delegados não ousaram tomar sobre si a responsabilidade de dizer em nome de suas seitas: Estávamos no erro. De uma conferência deste gênero não poderá nunca surgir a união das igrejas.”
Na International Review of missions, de janeiro de 1928, o Bispo anglicano de Bombaim, dizia: “Nós poderíamos poder dizer aos pagãos: Aqui está a Igreja de Cristo; porém, nossas divisões dão um desmentido. O Protestantismo professa opiniões contraditórias e as que são falsas deveriam ser rechaçadas, não só por amor à união, como por respeito à verdade. Em Lausanne os delegados não ousaram tomar sobre si a responsabilidade de dizer em nome de suas seitas: Estávamos no erro. De uma conferência deste gênero não poderá nunca surgir a união das igrejas.”
Em 1930, era a vez da revista protestante Student
Volunter Bulletin fazer o seguinte lamento: ”A situação fragmentária de nossas
igrejas é para muitos o argumento final de que o Protestantismo não pode
dar-lhes a paz e unidade que eles buscam para as suas almas. Não é exagerado
afirmar que para o latino acostumado à unidade de Religião e de governo o
escândalo da multidão de seitas é fatal.” (Março de 1930).
Mr. Browning também disse no livro New Days in latin America, p. 176: “Quando os católicos nos apontam as 50 e mais seitas que se esforçam em introduzir o Evangelho na América Latina, o protestante não pode fazer outra coisa senão calar e admitir a força do argumento.”
Mr. Browning também disse no livro New Days in latin America, p. 176: “Quando os católicos nos apontam as 50 e mais seitas que se esforçam em introduzir o Evangelho na América Latina, o protestante não pode fazer outra coisa senão calar e admitir a força do argumento.”
Também dizia o Arcebispo anglicano de Cantuária na
revista The Month de julho de 1932: “Todos deviam reconhecer sua culpabilidade
na divisão do Corpo de Cristo, divisão esta que é contrária à vontade de Deus.”
Van Baalen, escritor da igreja Batista, no
livro O caos das Seitas reconheceu: “Na verdade, os inimigos
da fé evangélica não se têm cansado de lembrar-nos que o Protestantismo jaz
prostrado e sem poder, em razão de suas muitas divisões e subdivisões. Sem
dúvida existem partidos e divisões em demasia ─ grupos e denominações
inumeráveis. Tudo isso é a grande vergonha do mundo cristão.” (Imprensa publicadora
Batista regular, S. Paulo.3ª edição brasileira, 1977, p. 277).
Venâncio R. Santos, da Assembléia de Deus, no
jornal Mensageiro da paz, nº 1208/1212, de dezembro de 1987, na p. 13, quando
tratou do “ministério da reconciliação” nas igrejas protestantes disse: ”
Fiquei realmente apreensivo, levando em consideração o fato de que muitos
ministros do Evangelho pouco ou nada estão fazendo em prol das reconciliações
ao longo da seara do Mestre. Ao contrário, muitos têm promovido desintegrações
fraternas, semeando a discórdia e patrocinando a maledicência, dividindo os
filhos de Deus.” Mais adiante, ele conclui assim o seu artigo:
“Lamentavelmente, é o que mais se vê hoje, nas ações evangelísticas: a fundação
de igrejas, ultrajando o corpo de Cristo, profanando o seu precioso sangue e
sacrificando o amor e a paz sobre o insensato altar do egoísmo, em estúpido
atentado contra a fraternidade cristã.”
O pior é que nem Venâncio, nem nenhum outro
protestante, pode criticar uma nova denominação que surge porque a dele também
é fruto dessa divisão e também porque ninguém pode garantir no Protestantismo
quem está certo ou errado.
O pastor pentecostal Juan Carlos Ortiz, no
livro O Discípulo, dizia: “ Outra evidência desta infância são as
divisões que há na Igreja. Paulo disse aos crentes de Corinto que o fato de uns
se apegarem a Pedro, a Apolo e a ele próprio era sinal de imaturidade
espiritual. Os coríntios estavam brigando entre si. Eram partidários cada um de
um pregador. Mas pelo menos estavam na mesma Igreja.
Em nossa época, nós não conseguimos nem divergir bem. Pertencemos aos mais diversos grupos e nos reunimos em templos separados, e falamos mal um dos outros. Se os coríntios eram bebês em Cristo, nós nem nascemos ainda.
Em vez de melhorarmos estamos piorando. A cada ano que passa, existem mais denominações. O corpo de Cristo nunca esteve tão repartido.”
Em nossa época, nós não conseguimos nem divergir bem. Pertencemos aos mais diversos grupos e nos reunimos em templos separados, e falamos mal um dos outros. Se os coríntios eram bebês em Cristo, nós nem nascemos ainda.
Em vez de melhorarmos estamos piorando. A cada ano que passa, existem mais denominações. O corpo de Cristo nunca esteve tão repartido.”
Na p. 115 pergunta: “Qual é o nosso motivo para
crucificar, ferir e dividir o corpo (a Igreja)? Não o temos, e nosso castigo
por fazermos tal coisa será mais severo que o de Pilatos e Judas.”
Na p. 132 afirma ainda: “Não obstante o que a
Bíblia ensina, também nós os protestantes temos as nossas tradições: as
denominações. Jesus tem somente uma esposa, a Igreja. Ele não é polígamo. No
entanto, chegamos até a dizer que as denominações fazem parte da vontade de
Deus. Assim nós culpamos a Deus pelas nossas divisões e falta de amor. E depois
criticamos os Católicos pelas suas tradições. Pelo menos suas tradições são
mais antigas que as nossas.” (O discípulo, p.132, Editora Betânia)
A verdade é que ao abandonar tanto a Tradição
quanto o Magistério, o Protestantismo provocou sua própria fragmentação. E
hoje, infelizmente, o “Protestantismo” abarca mais de 30.000 mil denominações
doutrinária e disciplinadamente discordes entre si, causando um flagrante
escândalo ao claro desejo de Jesus Cristo: a unidade de todos os cristãos (Jo
17, 20-21).
Os evangélicos afirmam que a Bíblia é sua única
fonte de fé. Na verdade, porém, a sua única fonte de fé é a sua própria cabeça.
Usam a Bíblia apenas para justificarem suas crenças, e, nisso, não se dão conta
das infinitas incoerências e contradições a que se submetem.
O Protestantismo combate o poder infalível da
Igreja, e proclama a infalibilidade individual de cada “crente”, gerando aí o
“jesus” da minha imagem e semelhança. O orgulho humano preferiu criar um
“jesus” à sua imagem e semelhança a aceitar Nosso Senhor Jesus Cristo, cujas
palavras são às vezes duras de ouvir (Jo 6, 61). Essa idolatria (não há
realmente outro nome para a adoração de uma criação humana) é infelizmente a
marca do livre-exame.
Em nome dessa libertinagem relacionada às Sagradas
Escrituras surgem, no Protestantismo, defensores das mais variadas doutrinas.
Já surgiram denominações até para homossexuais! A igreja evangélica Sino de
Belém e a Acalanto são defensoras dessa prática. Assim, tal libertinagem,
infelizmente, cria espaço para as doutrinas mais absurdas possíveis.
No começo do século XX, o Reverendíssimo Pe. Leonel
Franca já chamava a atenção para esta triste divisão protestante, baseada no
método da Sola Scriptura e do livre exame: “Na nova seita (protestantismo) não
há autoridade, não há unidade, não há magistério de fé. Cada sectário recebe um
livro que o livreiro lhe diz ser inspirado e ele devotamente o crê sem o poder
demonstrar; lê-o, entende-o como pode, enuncia um símbolo, formula uma moral e
a toda esta mais ou menos indigesta elaboração individual chama cristianismo
evangélico. O vizinho repete na mesma ordem as mesmas operações e chega a
conclusões dogmáticas e morais diametralmente opostas. Não importa; são irmãos,
são protestantes evangélicos, são cristãos, partiram ambos da Bíblia, ambos
forjaram com o mesmo esforço o seu cristianismo” ( In I.R.C. Pg. 212 , 7ª ed.).
Obviamente por causa dessa enorme divisão
protestante, o método do apenas “lê a Bíblia” tem surtido efeito contrário. O
indivíduo fica incapaz, de fato, de chegar à verdade no sistema protestante.
Ele lê a Bíblia individualmente e apenas surgirá com outra doutrina inovadora,
a qual entrará na coleção de doutrinas do Protestantismo. Se fosse verdade a
clareza das Escrituras, então haveria apenas uma igreja protestante; no
entanto, a divisão é infindável.
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