sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Sola Scriptura: a farsa desmascarada PARTE 04



3ª dúvida: Em Jo 5,39, Cristo diz: ”Examinais as Escrituras….”  Isso é Sola Scriptura.
Resposta: Vendo, porém, o contexto, rapidamente notamos a falha nessa afirmação. A simples observação do versículo seguinte, pois o versículo foi citado fora do contexto, já esclarece tudo. Vejamos o versículo completo, mais o versículo 40: “Examinais as Escrituras, julgando encontrar nelas a vida eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de mim. E vós não quereis vir a mim para que tenhais a vida.” Pelas palavras em negrito, percebemos que Cristo está falando com descrentes, não com todos os cristãos. Conforme o contexto, Cristo está pretendendo demonstrar a sua divindade aos judeus, com quem Ele está conversando. Para isso, recorre a três testemunhos: o de João Batista (versículos 32 a 35); depois afirma que tem um testemunho maior que o de João: suas próprias obras (versículos 37 e 38). Finalmente, recorre ao testemunho das Escrituras (versículos 39 e 40), já que os judeus nelas eram entendidos. Veja logo que Cristo citou duas autoridades alheias às Escrituras então existentes: o testemunho de João e o de suas obras, para depois citar o das Escrituras. Donde fica excluída a Sola Scriptura. Além disso, a expressão inicial não consiste numa ordem para examinarmos as Escrituras, pois o texto quer apenas dizer que os judeus, que criam nas Escrituras, deveriam lê-las melhor para constatar que a divindade de Cristo era aí demonstrada. Obviamente Cristo está reconhecendo aí a autoridade das Escrituras, mas a sua exclusividade é coisa impossível de aí ser comprovada. Logo o texto não favorece a Sola Scriptura.
Outro detalhe: O texto demonstra explicitamente que a leitura particular das Escrituras não foi suficiente para fazer os judeus entenderem a divindade de Cristo. O que depõe contra o livre exame. Além disso, se esse texto provasse a Sola Scriptura, provaria realmente o Solo Antigo Testamento.
Como Cristo, a Igreja pode e deve hoje usar esse mesmo argumento para os sola scripturistas: vocês examinam as Escrituras, julgando ter nelas a vida eterna. Pois bem! São elas que dão testemunho de mim.
4ª dúvida: Em Jo 20,30, o Evangelista diz: “Fez Jesus, na presença de seus discípulos, ainda muitos outros milagres, que não estão escritos neste livro. Mas, estes foram escritos para que creais que Jesus é o Cristo, o filho de Deus e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.” Os sola scripturistas entendem que, ainda que Jesus tenha feito muitas [outras] coisas, somente as que se encontram na Bíblia são necessárias.
Resposta: Tudo isso é totalmente falso. Inicialmente, estaríamos nos referindo apenas ao evangelho de S. João. Então ficaria de fora coisas importantes como o Pai Nosso (Mateus e Lucas), a história da infância de Jesus (Mateus e Lucas), a última ceia com pão e vinho (os sinóticos), o sermão da montanha (Mateus) e outros pontos mais. Este versículo não está dizendo que o que está ali basta para fazermos tratados doutrinários, mas tão somente tentando mostrar para os judeus que Jesus é o Messias. Só que saber somente isso não nos dará a salvação, pois até os demônios sabem que Jesus é o Messias (Mc 5, 7), nem por isso se salvarão. Para provar que Cristo é o Messias, o Evangelho de S. João pode até ser suficiente, mas para demonstrar outras verdades necessárias, ele precisa de outros textos.
5ª dúvida: Inúmeras vezes Deus nos advertiu a não acrescentar, nem diminuir e seguir fielmente sua Palavra (Dt 4,2; 12,32; Js 1,7-8; 2 Ts 3,14; Ap 22,18-19). Qualquer que contrarie esta solene orientação divina peca contra o Senhor e denigre a Autoridade das Escrituras. Toda palavra de Deus é pura e não está aberta a acréscimos (Sl 12,6; 119,140; Pv 30,5-6). Quem rejeita tal princípio denigre a Suficiência da Palavra de Deus Escrita, fazendo de Deus mentiroso e maculando a revelação divina. Na medida em que o homem imperfeito acrescenta seus entendimentos não-inspirados naquilo que Deus perfeitamente inspirou, toda a pureza do ensino bíblico é corrompida.
Resposta: Citar tais textos para apoiar a Sola Scriptura é pura ingenuidade. É evidente que em nenhum desses textos Deus disse que apenas se revelaria através da escrita. Se lermos Dt 4, por exemplo, sobre não acrescentar ou retirar as palavras ordenadas, vemos que é Moisés quem está ordenando. Claro que ele está passando o que Deus disse a ele, mas o contexto mostra que estas palavras foram ditas oralmente por Moisés. Moisés tinha, portanto, a autoridade do Magistério, o que está muito distante da Sola Scriptura. Não há dúvida de que é palavra de Deus infalível, mas vinda por meio de Moisés e oralmente. Moisés estava dizendo que nada deve ser acrescentado ou retirado de suas palavras orais. Se essa ordem for entendida como Sola Scriptura, antes ela devia ser entendida como Sola traditione. Além disso, se entendermos que o escritor sacro está isolando a Escritura como regra de fé, entenderíamos, então, que somente o Deuteronômio é autoridade de fé e que deveríamos excluir todos os livros escritos posteriores. Assim, teríamos que excluir 61 livros da Bíblia ou 68, se incluirmos os 7 livros que os sola scripturistas retiraram. Vale ressaltar, ainda, que a Igreja Católica nunca acrescentou nada à palavra de Deus e nem jamais retirou. Logo, esse texto em nada se refere a nós. Pelo contrário, se acreditarmos na exclusividade da Bíblia como regra de fé, estaremos retirando algo à palavra de Deus, a Tradição e a autoridade da Igreja, ambas confirmadas pela mesma Bíblia.
Os sola scripturistas imaginam que Moisés disse a todos para ler suas leis, estudá-las pessoalmente e pedir ao Espírito Santo para guiá-los. Mas será que foi assim? Isso não se encontra em nenhum dos versículos citados. O Livro da Lei foi colocado junto da Arca da Aliança (Dt 31,26), no Santo dos Santos. O povo não podia apreciar nada no Santo dos Santos, nem interpretar particularmente o Livro da Lei. Apenas o sumo sacerdote poderia entrar no Santo dos Santos, que continha a Lei, e apenas uma vez ao ano (Hb 9,6-8). Isto não tem nada a ver, pois, com Sola Scriptura.
Quanto ao texto de 2 Ts 3,14, se ele provasse a suficiência formal das Escrituras, então, 2 Ts 3, 6 (apenas 8 versículos antes) provaria a suficiência formal da Tradição. Como se vê, é mais lógico admitirmos que os versículos em pauta complementam-se e juntos demonstram as duas regras de fé cristã: a oral e a escrita. Logo, adeus Sola Scriptura.
Quanto a Ap 21, 18.19 também nada depõe contra a Tradição e a favor da Sola Scriptura, pois a Tradição nada acrescenta à escrita, apenas a explica melhor. Se nós acrescentamos algo à escrita, o que dizer de muitas doutrinas protestantes, as quais estão alheias às Escrituras? O que dizer da própria Sola Scriptura? Não é ela um acréscimo à escrita, já que ela não consta na Bíblia sagrada? Além disso, não esqueçamos que o texto também diz que nada devemos tirar; no entanto, os sola scripturistas retiraram inúmeras doutrinas bíblicas bem como reduziram o próprio cânon bíblico. Não é isso entrar em choque com o próprio texto citado?
Quando essa passagem afirma que nada deve ser acrescentado ou retirado das palavras deste livro, não estão se referindo à Sagrada Tradição sendo acrescentada à Sagrada Escritura. Na verdade, a Tradição nem acrescenta nem tira nada da Escritura, apenas a explica com mais clareza. É claro pelo contexto que o livro aqui citado é o do Apocalipse, e não a Bíblia inteira. Sabemos disso porque S. João diz que o que for culpado por acrescentar a este livro será penalizado com as pragas escritas neste livro, evidentemente que as pragas descritas no livro do Apocalipse. Negar isso é atentar contra o texto e distorcer seu claro significado, especialmente pelo fato de sabermos que a Bíblia que temos hoje não existia quando essa passagem foi escrita. Sendo assim não poderia significar a Escritura inteira. E sendo assim, é lógico que o autor do Apocalipse não afirmaria a exclusividade desse livro, o que negaria a autenticidade dos outros 26 livros do NT. E mesmo se estendermos essa afirmação à Escritura inteira, continuará sem negar a autenticidade da Santa Tradição, pois o texto quer dizer que nada entre em choque com a Escritura. E a Tradição, como já demonstramos, em nada se choca com a Escritura.
A mesma advertência de não acrescentar ou subtrair palavras é vista em Dt 4,2, inclusive já analisado, que diz: “Nada acrescentareis às palavras dos mandamentos que vos dou, e nada tirareis; assim guardareis os mandamentos do Senhor, vosso Deus, que eu vos dou.” Se aplicarmos uma interpretação paralela com este verso, logo tudo o que está na Bíblia além dos decretos das leis do AT deveria ser considerado apócrifo, incluindo-se o NT! Todos os cristãos rejeitam, evidentemente, essa conclusão. A proibição de Ap 22,18-19 contra a adição, portanto, não pode significar que os cristãos estão proibidos de buscar algum guia fora da Bíblia.
Quanto aos textos dos Salmos e dos provérbios, eles apenas exaltam a palavra de Deus (e essa palavra de Deus chega até nós escrita e oralmente). Os textos não dizem que se referem apenas aos escritos. Então, em momento algum eles favorecem a Sola Scriptura.
Além disso, mesmo que esses textos se referissem à Escritura, não poderíamos concluir a exclusividade da Escritura, porque não podemos deduzir essa exclusividade a partir de textos que apenas louvam essas Escrituras. Isso se chocaria com o texto de Apc 21, 18, objetado atrás. Enquanto há textos que louvam as Escrituras, e isso é verdade, há inúmeros outros que também louvam a Tradição. Veja, por exemplo: Sl 44,1; 78,5.10-11; 105,5; 143,5; Pr 2,18; Is 40,8; 59,21; Jr 6,16-17; 31,36; Dn 7,28 e Zc 1,6.

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