sexta-feira, 17 de abril de 2015

Identidade, afetividade e sexualidade




Pe. Valdes Aparecido Ferreira Lima

Texto bíblico: Mt 5,13-16

I - Auto-Identidade e Os Níveis de Identificação
Conhecer-se a si mesmo é uma necessidade e um dever ao qual ninguém pode subtrair-se. O homem tem necessidade de saber quem é. Não pode viver, se não descobre que sentido tem a sua vida. Arrisca-se a ser infeliz, se não reconhecer a sua dignidade. Por isso, podemos dizer que estamos, cada dia, a procura de nosso eu. É uma busca contínua, embora às vezes inconsciente, frequentemente difícil e aparentemente contraditória. Entretanto, não acaba nunca... E é justo que seja assim. Com efeito, a identidade não é dado biológico, ínsita nos nossos cromossomos e facilmente reconhecível. Tampouco é uma verdade a ser contemplada e na qual se deve crer, de maneira mais ou menos estática e passiva. Quando muito, é um ponto de chegada, uma vocação totalmente pessoal a ser realizada. De fato, não podemos saber o que somos e intuir o que fomos chamados a ser, mas só quando vivermos tudo isso teremos descoberto o nosso eu. E se esta caminhada à procura do nosso eu passar por dúvidas, inseguranças, ou até mesmo verdadeiras crises de identidade, haverá também sempre boas razões para se esperar que a nossa busca, se honesta e persistente, há de ser recompensada.[1]
É uma necessidade fundamental para o homem ter um conceito correto do próprio eu, lá onde o termo correto significa: realista e estavelmente positivo. De outro lado, é muito difícil e frustrante conviver com um senso negativo da própria identidade, ou buscar compensações ilusórias para recuperar tal positividade.[2]
Tomando as agudas reflexões do Pe. Amedeo Cencine, vejamos em que níveis e segundo quais conteúdos é possível nos auto-identificarmos:
Nível Corporal
Nesse nível a auto-identificação se dá com o próprio corpo. Refere-se a um dado concreto, imediatamente perceptível, determinado por precisas habilidades físicas e qualidades estéticas. Diz respeito ao momento mais evidente e elementar da auto-identificação humana enquanto tal, uma vez que até mesmo as crianças conseguem se auto-identificar nesse nível.
As dificuldades aparecem quando, na fase adulta, não se consegue ir além desse nível elementar, limitando o conceito que se tem de si mesmo à sua individualidade corpórea. Pense-se, por exemplo, na busca angustiada por um corpo forte, sadio, atraente que impera em nossos dias.
Nível Psíquico
Neste nível nos identificamos com os nossos talentos e qualidades: “aqui a pessoa enfatiza o que possui e o que espera conquistar com ‘seus’ próprios meios, graças a ‘seus’ esforços”.[3] É um nível superior com relação ao primeiro. Com ele descobrimos o que nos diferencia seja dos outros animais seja dos nossos semelhantes:
Entretanto, esse nível apresenta riscos evidentes: o risco de uma visão parcial do homem, limitada a aspectos particulares que nem são os mais importantes. Consequentemente, quando um pessoa se identifica só e sobretudo nesse nível, terá tal consciência de suas possibilidades e potencialidades, que busca sua auto-realização apenas naquele sentido, acreditando, plena e unicamente, ser o criador e senhor de si e do que possui.[4]
Segundo Cencine, a auto-identificação psíquica tem, ainda, como frutos desastrosos: a chamada dependência da função, a necessidade extrema do resultado positivo, o horror ao fracasso, a não aceitação do pecado, o complexo de inferioridade, entre outros.
Nível Ontológico
Os níveis corporal e psíquico, pois, não são, por si mesmos, suficientes para dar ao homem um sentido adequado do próprio eu. Por mais que sejam importantes, jamais poderão, por si sós, satisfazer à exigência fundamental de se ter um sentido substancial e estavelmente positivo da própria identidade (...). Trata-se (...) [então] de fundamentar a própria identidade sobre conteúdos mais “radicais”, como aqueles que o nível ontológico oferece.
Nesse nível, definimo-nos por aquilo somos e por aquilo que somos chamados a ser. Em termos mais precisos: a pessoa descobre e constrói a própria identidade em torno da relação entre o eu atual, com suas necessidades e potencialidades, e o eu ideal, com seus valores objetivos e suas finalidades. Não é mais, ou não é mais simplesmente aquilo que possuímos que irá decidir da nossa positividade, mas o que somos no mais profundo da nossa identidade atual e ideal, como seres humanos, como cristãos (...). O eu atual e o eu ideal sãos os dois elementos estruturais desse tipo de auto-identificação.[5]
Tal indispensável e fecunda relação entre o eu atual e o eu ideal se dá em nós quando reconhecemos e vivemos o nosso ‘ser imagem e semelhança do Deus’, por meio de um radical e apaixonado seguimento de Cristo.
É Cristo que revelando o mistério do Pai, revela o homem ao homem e lhe faz nota a sua altíssima vocação (cfr. GS 22). Portanto, se quisermos descobrir quem somos e quem somos chamados a ser, as Escrituras e vida de tantos homens e mulheres, filhos da Igreja, que se colocaram no seguimento radical e apaixonado de Cristo testemunham com força: precisamos nos deixar alcançar pelo Filho, sermos introduzidos no seu mistério, sermos transformados pela sua vida em nossa vida, de modo que o seu caminho pascal qualifique, transforme e revele o nosso caminho, a nossa identidade, a nossa mais verdadeira vocação: àquela de vivermos como filhos livres para amar e sermos amados, segundo a beleza sem igual do amor divino e humano do Filho.
Contemplaremos as dimensões dos afetos e da sexualidade a partir dessa irrenunciável perspectiva. Isso porque cremos firmemente que a nossa mais verdadeira identidade e vocação “está escondida em Deus com Cristo” (Col 3,3). Ele é o nosso critério, nele contemplamos o homem pleno, belo e feliz que somos chamados a ser. O Cristo, o “mais belo entre os filhos dos homens” (Sl 45,3), apresenta-se como 0 nosso modelo, a nossa companhia, o nosso caminho, por fim, a nossa mais bela meta.
Dessa foram, é ao mesmo tempo iluminados e desejosos por alcançar a beleza da estatura de Cristo, nossa única vocação, que nos dispomos trilhar esse caminho de formação.



[1] CENCINE A., Amarás o Senhor teu Deus: psicologia do encontro com Deus, Paulinas, São Paulo 1989, 8.
[2] CENCINE A., Amarás o Senhor teu Deus: psicologia do encontro com Deus, Paulinas, São Paulo 1989, 17.
[3] CENCINE A., Amarás o Senhor teu Deus: psicologia do encontro com Deus, Paulinas, São Paulo 1989, 19.
[4] CENCINE A., Amarás o Senhor teu Deus: psicologia do encontro com Deus, Paulinas, São Paulo 1989, 19.
[5][5] CENCINE A., Amarás o Senhor teu Deus: psicologia do encontro com Deus, Paulinas, São Paulo 1989, 27.

domingo, 12 de abril de 2015

Vaticano: Bula que convoca Jubileu da Misericórdia publicada a 11 de abril


Vaticano: Bula que convoca Jubileu da Misericórdia publicada a 11 de abril


Cidade do Vaticano, 31 mar 2015 (Ecclesia) - O Vaticano revelou hoje que a bula convocatória do Jubileu da Misericórdia, anunciado pelo Papa no último dia 13, vai ser publicada a 11 de abril, na Basílica de São Pedro.
A iniciativa vai decorrer durante um momento de oração presidido por Francisco, a partir das 17h30 (menos uma hora em Lisboa), na véspera do Domingo da Misericórdia, uma festa instituída por São João Paulo II e celebrada uma semana depois da Páscoa.
O rito da publicação prevê a leitura de passagens da Bíblia diante da Porta Santa da basílica, que vai ser aberta pela primeira vez desde o ano 2000.
O Jubileu da Misericórdia vai ter início com a abertura da porta santa da Basílica de São Pedro, algo que não acontece desde 2000.
Esta porta é aberta apenas durante o Ano Santo, permanecendo fechada no resto do tempo, e existem portas santas nas quatro basílicas papais: São Pedro, São João de Latrão, São Paulo fora de muros e Santa Maria maior.
O rito inicial quer mostrar simbolicamente que aos fiéis é oferecido, no jubileu, um “percurso extraordinário” para a salvação, precisa um comunicado divulgado pela Santa Sé.
O Papa decidiu a realização do 29.º jubileu na história da Igreja Católica, um Ano Santo extraordinário centrado no tema da Misericórdia, entre 8 de dezembro e 20 de novembro de 2016.
A Igreja Católica iniciou a tradição do Ano Santo com o Papa Bonifácio VIII, em 1300, e a partir de 1475 determinou-se um jubileu ordinário a cada 25 anos.
Até hoje houve 26 anos santos ordinários e dois extraordinários (anos santos da Reden­ção): em 1933 (Pio IX) e 1983 (João Paulo II).
O jubileu, com raízes no ano sabático dos hebreus, explica o Vaticano, “consiste num perdão geral, uma indulgência aberta a todos, e na possibilidade de renovar a relação com Deus e o próximo”.
Esta indulgência implica certas obras penitenciais, como peregrinações e visitas a igrejas.
A bula de convocatória indica as datas de início e encerramento do jubileu e a forma como vai desenrolar-se.
O termo ‘bula’ vem do latim ‘bulla’ (objeto redondo) e indicava originalmente a cápsula metálica utilizada para proteger o selo de cera que se unia a um documento de especial importância, para certificar a sua autenticidade.
Com o passar do tempo, passou a indicar primeiro o selo e depois o próprio documento.

Santo Padre publicará o documento oficial do Ano Santo Extraordinário na véspera da Festa da Divina Misericórdia



Após o primeiro anúncio, em 13 de março passado, do próximo Ano Santo Extraordinário, o Papa Francisco publica, no dia 11 de abril, a Bula de Proclamação do Jubileu da Misericórdia às 17h30 (horário em Roma, 12h30 em Brasília) na Basílica de São Pedro.
O rito da publicação prevê a leitura de alguns trechos da Bula diante da Porta Santa da Basílica Vaticana. Em seguida, Francisco presidirá a celebração das Primeiras Vésperas do Domingo da Divina Misericórdia, celebrado neste ano em 12 de abril. Com isso, ele enfatiza, de um modo peculiar, o que será o tema fundamental do Ano Santo: a misericórdia de Deus.
A Bula
O termo “bula” vem do latim e indicava, de início, a cápsula metálica utilizada para proteger o selo em cera ligado através de um cordão a um documento de particular importância, a fim de certificar sua autenticidade e, em consequência, sua autoridade.
Com o tempo, o termo passou a indicar primeiro o selo, depois o próprio documento, de forma que hoje é utilizado para todos os documentos pontifícios de particular importância que levam o selo do Pontífice.
A bula de proclamação de um jubileu, especialmente no caso de um Ano Santo Extraordinário, traz indicações de datas de início e encerramento bem como informações sobre as modalidades principais de atuação. Além disso, a bula constitui o documento fundamental para reconhecer o espírito com que é proclamada, as intenções e os frutos esperados do Pontífice que o indica para a Igreja. 
Da Redação, com Boletim da Santa Sé