Várias expressões, como já vimos, são citadas no
NT, mas não constam no AT e nem mesmo nos Evangelhos (Veja Mt 2,23; At 20, 35;
2Tm 3, 8; Jd 9). Como podem, então, os solas cripturistas alegarem que os
cristãos primitivos só usavam as Escrituras? Não fica claro o absurdo dessa
afirmação?
Quanto ao fato de dizerem que Jesus condenou o uso
da Tradição em Mc 7,9 é outra ilusão. Se isso fosse verdade S. Paulo não nos
recomendaria também guardarmos o ensino oral dos apóstolos como já vimos. O
problema demonstrado aqui é o fato dos Fariseus ensinarem informalmente sua
própria tradição em vez da Tradição que foi comunicada desde Abraão até os
Profetas (Exatamente como fazem hoje os solas cripturistas, cada um pregando
suas próprias tradições). Se Jesus condenasse as tradições formais, Ele não
teria dito ao povo que ouvisse os fariseus quando estes ensinassem na Cadeira
de Moisés, ou seja, ensinassem formalmente como legítimos sucessores de Moisés
(cf. Mt 23,2). Cristo, então, condena as tradições informais, não as formais.
Ainda mais: o fato de Cristo ter condenado as tradições farisaicas isso não
significa dizer que ele rejeitava as tradições como tais. Ele rejeitava a
“tradição” humana, não a tradição divina. O termo grego usado aí para
“tradição” é o mesmo que aparece em 2 Tes 2, 15 e 3,6 “paradosin”, e como se
vê, em Marcos ela significa algo negativo; em Paulo, ela significa algo
positivo.
Quanto ao caso dos bereanos, notemos que não foi
apenas o testemunho da Escritura que os levou a abraçar a fé cristã. Ao
contrário, se fossem apenas pelas Escrituras, eles rejeitariam, e não
aceitariam, o ensino dos apóstolos, pois muitos ensinos apostólicos não tinham
apoio no AT, como inclusive já vimos. Logo, esse argumento não procede. Se
lermos o contexto, veremos que o texto diz algo importantíssimo, que
esclarecerá definitivamente a passagem. Vejamos: “Estes (os bereanos) eram mais
nobres do que os de Tessalônica e receberam a palavra com ansioso desejo,
indagando todos os dias, nas Escrituras, se estas coisas eram assim.” (At 17,
11). Como se vê, o texto não elogia os bereanos apenas por consultarem as
Escrituras, mas antes por “receberem a palavra” oral dos apóstolos. Logo, eles
não eram adeptos da Sola Scriptura, pois se fossem, rejeitariam o testemunho de
Paulo, “E este Cristo é Jesus que vos anuncio.” (verso 3) ), que não constava
nas Escrituras. Embora apoiando-se nas palavra escrita, conforme os primeiros
três versículos desse capítulo de Atos, Paulo logo depois mudou o caminho do
argumento das Escrituras para o seu próprio testemunho “E este Cristo é Jesus
que vos anuncio.” A doutrina de que Jesus é o Cristo trazida, por ele, não se
encontrava nas Escrituras, embora se harmonizasse com elas, no entanto, os
bereanos a aceitaram, tão somente porque confiaram no testemunho dos apóstolos.
Quanto ao fato deles consultarem as Escrituras para
certificarem-se da autenticidade das palavras dos apóstolos, também não
favorece nem a Sola Scriptura nem o livre-exame, pois quando os bereanos
conferiram nas Escrituras se era verdadeira a doutrina de S. Paulo,
comportaram-se como qualquer não-crente que para saber ou não se deve abraçar a
fé cristã faria. Repetimos: se os bereanos fossem solas cripturistas,
colocariam, como vimos, S. Paulo em maus lençóis, pois o apóstolo não poderia
provar muitos ensinos dele pela Escritura que possuía.
Conclusão: o caso dos bereanos em vez de demonstrar
a Sola Scriptura, mostra é a autoridade da Escritura ao lado da autoridade da
Igreja. O que contraria a Sola Scriptura.
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