1- A ANTROPOLOGIA SEXUAL
Sob
qualquer enunciado ético, está sempre incluída uma visão de pessoa, uma imagem
do homem, seja expressamente declarada ou não.
A
antropologia proposta pela Bioética de inspiração personalista se expressa na ontologia
dimensional apresentada por diferentes autores como por Nicolai Hartman,
Max Scheller, Husserl e Viktor Frankl. De acordo com ela, a pessoa humana
ontologicamente é um ser tridimensional. As três dimensões são: somática,
psíquica e espiritual7.
Dimensão
somática: onde se situam os fenômenos corporais, o fundamento celular, os
processos fisiológicos.
Dimensão
psíquica: comporta a esfera das sensações, das emoções, dos impulsos, das fantasias,
dos dotes intelectuais, dos padrões de comportamento, dos costumes.
Dimensão
espiritual: onde se localiza a capacidade de se perguntar pelo sentido das coisas,
dos fatos e da própria vida, o senso ético, a compreensão dos valores, a
capacidade de decisões pessoais, de dar respostas livres, o pensamento
criativo.
Esta
não é uma teoria de estratos porque as três dimensões se interpenetram
perfeitamente, como acontece com as dimensões de altura, largura e altura de um
objeto no espaço.
O
objeto tridimensional, um cilindro, por exemplo, é percebido como cilindro
captado em sua unidade, quando apreciado na realidade total espacial e o mesmo
cilindro perde a sua identidade se for reduzido à análise apenas de sua
projeção (sombra) no plano horizontal ou vertical.
A
pessoa humana é uma “unidade apesar da variedade”8.
A
dimensão espiritual é a dimensão propriamente
humana que torna a pessoa humana sempre única, irrepetível, portadora de
características próprias que fazem com que a humanidade toda seja diferente por
cada pessoa que já existiu, existe ou existirá.
O
homem só é visível como tal, quando incluímos esta terceira dimensão em sua
conformação, com as conseqüências em suas aspirações, em seu pensar e agir9.
Da
mesma forma, para respondermos as questões sobre a sexualidade na pessoa
humana, é preciso avaliá-la nesse contexto antropológico que atinge toda a sua
realidade.
A
sexualidade não deve ser reduzida apenas à dimensão física, somente à dimensão
psicológica ou somente à dimensão espiritual. Ela se estrutura nestas três
dimensões que não deveriam competir entre si, mas sim serem integradas em uma
ordem de valores que corresponda à descoberta do sentido da própria sexualidade
e às opções pessoais maduras.
Na
unidade corpo, psiquismo e espírito identificam-se atitudes características de
sua expressão em diferentes planos, qualitativamente distintos.
Pelos conflitos que gera e pela força de suas
motivações, o comportamento sexual pode facilmente reduzir-se, e dirigir o seu
foco em uma ou outra dimensão, o que leva a uma postura diante de si mesmo e
dos outros que dificulta a unidade pessoal e fragmenta o relacionamento
interpessoal.
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