segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

SEXUALIDADE HUMANA - V Elizabeth Kipman Cerqueira



1-    EXISTEM PARÂMETROS ÉTICOS PARA O COMPORTAMENTO SEXUAL?
Para a resposta a esta questão, propõe-se uma análise rápida dos comportamentos mais habitualmente encontrados atualmente.
Embora alguns defendam a liberação total da dimensão SEXUS não a subordinando às considerações éticas, é praticamente impossível a redução da vivência humana apenas a esta dimensão, na busca exclusiva do prazer físico, mesmo que parta de um acordo mútuo entre os parceiros.
Os resultados indesejáveis não são apenas a gravidez involuntária e as possíveis doenças venéreas.
Podemos apresentar alguns problemas, entre muitos outros:
- depois de repetidas experiências e de busca de “novidades” focadas apenas na dimensão física, há o desencanto com o encontro sexual. O ato sexual não “melhora” com o treino. Ao contrário, “ele se gasta” e pode trazer a dúvida sobre o próprio desempenho nesta área;
- redução do encontro interpessoal a técnicas de comportamento, excluindo outra motivação podendo levar ao uso maior de medicamentos estimulantes;
- dificuldade em acolher futuramente a intimidade existencial do parceiro uma vez que se aprende o intercâmbio sexual de forma instrumentalizada e superficial;
- necessidade de uso de métodos anticoncepcionais em massa, com todas suas contra-indicações e possíveis efeitos prejudiciais, sempre penalizando muito mais a mulher, sobretudo em longo prazo.
Este comportamento sempre traz inconscientemente a subordinação a um determinismo na direção exclusiva da perpetuação da espécie, embora a fundamentação do discurso para a sua liberação total esteja exatamente na direção oposta.
Se não, veja-se o “sentido” dos instintos básicos comuns aos seres vivos:
- a fome leva ao impulso de se alimentar para a sobrevivência pessoal. O prazer da saciedade é conseqüência para que a vida seja mantida. Cabe a mesma análise para outros impulsos biológicos como matar a sede, procurar abrigo ou conforto, fugir do perigo;
- o impulso da união sexual visa à continuidade da espécie e, evidentemente, a ejaculação não serve primariamente à conservação da própria vida, mas à procriação. Biologicamente, a sensação de bem estar e prazer são meios para que seja alcançado o fim da procriação.
A dimensão corporal física não é um fim em si. É antes um meio de expressão para o encontro humano interpessoal. Quando tomada como a razão da sexualidade humana, perde o seu próprio significado. Paradoxalmente, embora se pregue a liberação do impulso sexual como meta de liberdade, ele esconde o máximo de dependência dirigida à procriação: a liberação do impulso, pelo impulso, sem direcionamento humano para um sentido.
A fixação na dimensão EROS, apresenta a tendência maior da cultura ocidental atual. É a proposta de um comportamento próprio da adolescência. Sexualidade despida de qualquer intenção e amor, reduzida à fantasia do irreal com a justificativa de autoconhecimento. Incentiva a despersonalização e os sonhos de consumo contaminam a área da afetividade. Apresenta uma oposição a uma ordem de valores. Cada um resolve o que é melhor para si e a liberdade de experimentar é o imperativo da conduta. Promove o “descompromisso” como estilo de vida. Apresenta a auto-afirmação no sucesso como solução de problemas e leva à instrumentalização e ao culto do corpo e da aparência.
Os modelos atuais banalizam a prática sexual ao mostrar uma grande preocupação em excluir questionamentos e insatisfações mais profundas. Reduzem os problemas resultantes, projetando-os sobre possíveis sentimentos de culpa que deveriam ser totalmente excluídos para alcançar a felicidade. Constata-se a perda do pudor na exposição da própria intimidade e os ídolos que dominam a mídia se tornam os guias das ações.
Embora estes modelos de comportamento sejam os dominantes na proposta até mesmo da educação sexual, verifica-se a mobilização de interesses e de envolvimento quando surgem exemplos que ressaltam a atitude PHILIA e AGÁPICA sejam estes em novelas, depoimentos ou notícias esporádicas. Isto indica que há algo que não morre no íntimo das pessoas: o desejo do bem, do amor verdadeiro, da construção conjunta.
O sexo reduzido ao instinto e à afetividade superficial não é aquele que responde aos anseios mais profundos da pessoa. A configuração sexuada humana é sinal de sua necessidade (e, portanto, de sua aspiração inegável) de encontro do Amor, da partilha, da doação. Esta é a sua identidade. É o tecido da dimensão espiritual que distingue a pessoa humana dos demais seres vivos.
A Bioética propõe o equilíbrio e a realização da pessoa humana inserida em seu habitat, defendendo a responsabilidade de uns pelos outros e pelo meio ambiente. Portanto, é função da Ética defender o que é próprio do ser humano.
Neste capítulo foi apresentada a sexualidade humana em suas possíveis atitudes.
A partir da visão de pessoa na Bioética personalista, existem parâmetros éticos de referência para o comportamento sexual humano e são aqueles que apontam para a plena realização ontológica, daquilo que é parte constitucional da pessoa humana. É a maturidade alcançada nas atitudes de PHILIA e ÁGAPE integrando as dimensões SEXUS e EROS, numa ordem de valores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário