1- EXISTEM PARÂMETROS ÉTICOS PARA O COMPORTAMENTO SEXUAL?
Para
a resposta a esta questão, propõe-se uma análise rápida dos comportamentos mais
habitualmente encontrados atualmente.
Embora
alguns defendam a liberação total da dimensão SEXUS não a subordinando às
considerações éticas, é praticamente impossível a redução da vivência humana
apenas a esta dimensão, na busca exclusiva do prazer físico, mesmo que parta de
um acordo mútuo entre os parceiros.
Os
resultados indesejáveis não são apenas a gravidez involuntária e as possíveis
doenças venéreas.
Podemos
apresentar alguns problemas, entre muitos outros:
- depois
de repetidas experiências e de busca de “novidades” focadas apenas na dimensão
física, há o desencanto com o encontro sexual. O ato sexual não “melhora” com o
treino. Ao contrário, “ele se gasta” e pode trazer a dúvida sobre o próprio
desempenho nesta área;
- redução
do encontro interpessoal a técnicas de comportamento, excluindo outra motivação
podendo levar ao uso maior de medicamentos estimulantes;
- dificuldade
em acolher futuramente a intimidade existencial do parceiro uma vez que se
aprende o intercâmbio sexual de forma instrumentalizada e superficial;
- necessidade
de uso de métodos anticoncepcionais em massa, com todas suas contra-indicações
e possíveis efeitos prejudiciais, sempre penalizando muito mais a mulher,
sobretudo em longo prazo.
Este
comportamento sempre traz inconscientemente a subordinação a um
determinismo na direção exclusiva da perpetuação da espécie, embora a
fundamentação do discurso para a sua liberação total esteja exatamente na direção
oposta.
Se
não, veja-se o “sentido” dos instintos básicos comuns aos seres vivos:
- a
fome leva ao impulso de se alimentar para a sobrevivência pessoal. O prazer da
saciedade é conseqüência para que a vida seja mantida. Cabe a mesma
análise para outros impulsos biológicos como matar a sede, procurar abrigo ou
conforto, fugir do perigo;
- o impulso da união sexual visa à continuidade da
espécie e, evidentemente, a ejaculação não serve primariamente à conservação da
própria vida, mas à procriação. Biologicamente, a sensação de bem estar e
prazer são meios para que seja alcançado o fim da procriação.
A
dimensão corporal física não é um fim em si. É antes um meio de expressão para
o encontro humano interpessoal. Quando tomada como a razão da sexualidade humana,
perde o seu próprio significado. Paradoxalmente, embora se pregue a liberação
do impulso sexual como meta de liberdade, ele esconde o máximo de dependência
dirigida à procriação: a liberação do impulso, pelo impulso, sem direcionamento
humano para um sentido.
A
fixação na dimensão EROS, apresenta a tendência maior da cultura ocidental
atual. É a proposta de um comportamento próprio da adolescência. Sexualidade
despida de qualquer intenção e amor, reduzida à fantasia do irreal com a
justificativa de autoconhecimento. Incentiva a despersonalização e os sonhos de
consumo contaminam a área da afetividade. Apresenta uma oposição a uma ordem de
valores. Cada um resolve o que é melhor para si e a liberdade de experimentar é
o imperativo da conduta. Promove o “descompromisso” como estilo de vida. Apresenta
a auto-afirmação no sucesso como solução de problemas e leva à
instrumentalização e ao culto do corpo e da aparência.
Os
modelos atuais banalizam a prática sexual ao mostrar uma grande preocupação em
excluir questionamentos e insatisfações mais profundas. Reduzem os problemas
resultantes, projetando-os sobre possíveis sentimentos de culpa que deveriam
ser totalmente excluídos para alcançar a felicidade. Constata-se a perda do
pudor na exposição da própria intimidade e os ídolos que dominam a mídia se
tornam os guias das ações.
Embora
estes modelos de comportamento sejam os dominantes na proposta até mesmo da
educação sexual, verifica-se a mobilização de interesses e de envolvimento
quando surgem exemplos que ressaltam a atitude PHILIA e AGÁPICA sejam estes em
novelas, depoimentos ou notícias esporádicas. Isto indica que há algo que não
morre no íntimo das pessoas: o desejo do bem, do amor verdadeiro, da construção
conjunta.
O
sexo reduzido ao instinto e à afetividade superficial não é aquele que responde
aos anseios mais profundos da pessoa. A configuração sexuada humana é sinal de
sua necessidade (e, portanto, de sua aspiração inegável) de encontro do Amor,
da partilha, da doação. Esta é a sua identidade. É o tecido da dimensão
espiritual que distingue a pessoa humana dos demais seres vivos.
A
Bioética propõe o equilíbrio e a realização da pessoa humana inserida em seu
habitat, defendendo a responsabilidade de uns pelos outros e pelo meio
ambiente. Portanto, é função da Ética defender o que é próprio do ser humano.
Neste
capítulo foi apresentada a sexualidade humana em suas possíveis atitudes.
A
partir da visão de pessoa na Bioética personalista, existem parâmetros éticos
de referência para o comportamento sexual humano e são aqueles que apontam para
a plena realização ontológica, daquilo que é parte constitucional da pessoa
humana. É a maturidade alcançada nas atitudes de PHILIA e ÁGAPE integrando as
dimensões SEXUS e EROS, numa ordem de valores.
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