Dom Orlando Brandes -
Rezar é um ato natural, um capítulo da
antropologia, exatamente porque o ser humano tem uma abertura congênita para o
transcendente, o divino. Rezar é também um ato de justiça para com nossa alma,
pois a oração é expressão do espírito, da alma, do coração. É também um ato de
justiça em relação a Deus. “Nele somos, vivemos e existimos” (At 17, 28).
A oração é antes de tudo terapêutica porque
pacifica, unifica, ordena a vida, os pensamentos e os afetos. “Os efeitos da
oração em nossa pessoa são mais visíveis que os das glândulas de secreção
interna”, diz o prêmio Nobel da medicina (1922), Dr. Alexis Carrel, ateu
convertido.
A arte da oração consiste em que o orante se
comunica com Deus, com os outros e consigo mesmo e assim faz grandes descobertas,
encontra soluções, recebe iluminações e muita força interior. K Jung e V.
Frankl são psicólogos que exaltam a importância e a eficácia da oração, sem a
qual, as pessoas não se curam de suas neuroses. Eles sabem muito bem que a
pessoa orante entra no nível alfa, freqüência profunda do cérebro humano.
Quem não reza está numa situação muito
desconfortável e até incômoda, porque irá buscar alívio e sedativo no álcool,
farras, drogas e sempre permanece vítima do vazio existencial e da solidão.
Sempre justificará seus erros e fugas, tendo necessidade espontânea de
ridicularizar quem reza, como se a oração fosse o “catecismo dos fracos e
perdedores”. De fato, só os humildes e autênticos rezam.
É preciso rezar com fé. Acreditar no poder da
oração. Rezar é estar com Deus e com os outros. Normalmente a oração verdadeira
e profunda leva à compaixão, ao perdão, à solidariedade. O amor é fruto da
oração. Rezar é um ato de amor e o amor é conseqüência da oração. Os santos, os
místicos são sempre pessoas de paz, de fraternidade e de ação em favor dos
pobres e pecadores. A oração, é amor de amizade com Deus que nos leva ao
amor-serviço para com os outros.
A oração é uma “alavanca que move o mundo”
(Sta. Terezinha). De fato, quantas pessoas são vitoriosas frente a doenças,
mágoas, decepções, injúrias. A oração as salvou. Quem reza se salva.
A oração é uma ponte. A pessoa orante é
fabricadora de pontes, é pontífice. Abatem-se os muros, constroem-se pontes,
com a sabedoria da oração. Esta ponte, a oração, vai da terra ao céu e do
coração do orante aos irmãos. A escalada da oração é exigente, requer
perseverança. É um combate.
A oração é muralha, é escudo, é proteção, é
abrigo, é segurança. Quem reza está imunizado contra muitos males. A oração nos
protege das tentações. Sem oração caímos na murmuração e abraçamos a tentação.
A oração é escola . O mestre interior é o
Espírito Santo. Na escola da oração aprendemos a prática do bem, a beleza do
perdão, a alegria da convivência, a esperança nas decepções. A oração nos faz discípulos,
iluminados, sábios, humanos e verdadeiros. Moisés tinha o rosto iluminado após
a oração. Irradiava o fulgor de Deus.
A oração enche o orante de audácia e coragem,
de força e tenacidade, de luz e compaixão. Jesus não somente reza, mas, ensina
a rezar, principalmente a perseverança na oração. Os primeiros cristãos eram
“assíduos na oração” (At 2, 42). De fato, a oração é inspiração de cada
momento, recolhimento do coração, recordação das maravilhas de Deus, é força
para a luta cotidiana. Eis a arte da oração.
A oração é uma rendição diante de nossa
insuficiência e da paternidade de Deus. A oração é a fala entre filhos(as) e
Pai. Portanto, oração é questão de amizade, é encontro de duas consciências,
duas intimidades, duas existências. Na oração acontece uma troca de olhares, de
confidências, de interioridades. Rezar é um ato de amor, um ato afetivo que
inflama o orante de amor a Deus e ao próximo.
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