sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Sola Scriptura: a farsa desmascarada PARTE 08



II – O que Lucas ensinou sobre Sola Scriptura?
A resposta é a mesma que demos quanto ao apóstolo Paulo: nada. Como Paulo, Lucas, realmente, nada ensinou sobre Sola Scriptura. Ao contrário, ensinou totalmente o contrario. Vejamos o texto inicial desse evangelista comentado pelo articulista protestante:
Ainda antes de escrever os quatro evangelhos, conforme afirma Lucas no introito do seu evangelho, muitos tentaram escrever sobre Jesus: “Muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós” (Lc 1,1). O próprio Lucas reconhece que antes de escrever o seu evangelho endereçado a Teófilo, ele consultou pessoas que foram testemunhas oculares da pregação de Cristo (Lc 1,3).
Sendo assim, Lucas demonstra explicitamente que seus escritos basearam-se na Tradição oral dos apóstolos. Na tentativa de escapar da força da afirmação de Lucas, Paulo Cristiano alega que embora o prefácio desse evangelho subentenda “que na época já havia histórias da vida de Jesus sendo transmitidas oralmente, Lucas não diz a Teófilo para se apoiar nelas, muito menos confiar nelas.” E depois acrescenta os argumentos, que como se vê atrás, não respondem satisfatoriamente a nossa afirmação acima.
Toda a objeção de Paulo Cristiano não explica, como vimos, por que Lucas baseou-se na Tradição oral, conforme ele mesmo confirma ao dizer “como no-lo transmitiram aqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares” (v. 2) e ainda “também a mim me pareceu bem, depois de haver diligentemente investigado tudo desde o princípio…”. O testemunho oral dos apóstolos foi, realmente, o guia mestre do relato de S. Lucas. Mais: o evangelista aqui está dizendo que muitos tentaram escrever acerca de Jesus, mas que tais escritos não são totalmente fidedignos porque não se basearam na Tradição recebida dos apóstolos, testemunhas oculares da vida do Senhor. Ele, ao contrário, pesquisou diligentemente, ou seja, conseguiu das testemunhas oculares a verdade sobre Cristo e essa verdade ele passou a Teófilo.
Sendo assim, Lucas admitiu, realmente, que havia inúmeras tradições sobre Cristo, inclusive escritas, mas acrescenta que as verdadeiras são apenas aquelas colhidas diretamente das testemunhas oculares, no caso os apóstolos. Como se vê, o evangelista não nega a autenticidade da Tradição, mas apenas distingue a verdadeira Tradição recebida dos apóstolos daquelas meras especulações. Assim, Lucas está duvidando da autenticidade dessas especulações, não da Tradição oral, na qual ele afirma categoricamente ter se baseado para fazer seu relato. Lucas, então, não diz a Teófilo para se apoiar nestas tradições falsas, muito menos confiar nelas, mas não nega a autenticidade da verdadeira Tradição.
Observemos que Lucas questiona a veracidade não só de algumas tradições orais como também de algumas escritas, o que demonstra que para Lucas o problema não é a Tradição, mas a procedência dessa Tradição. Oral ou escrita, só conserva a autenticidade se provier dos apóstolos: “que vos aparteis de todos os que andam em desordens e não segundo a tradição que receberam de nós” (2 Tes 3,6). E isso é exatamente a fé da Igreja Católica.
Outro detalhe: Em nenhum momento Lucas está desvalorizando o oral, senão seria contradição. Ele mesmo baseou-se no oral para escrever. O que ele diz no versículo 4 é que escreveu, confirmando para Teófilo a autenticidade do que este recebeu oralmente. Após colher essas informações dos apóstolos e antes mesmo de escrever elas eram fidedignas. O evangelista está, pois, dizendo: Teófilo, das muitas coisas que você ouve ou lê sobre Nosso Senhor, verdadeiras são apenas estas que vou te passar agora, porque as colhi dos próprios discípulos diretos de Cristo, ou seja, porque colhi da autêntica tradição. Não porque as escreveu, obviamente. Notemos que, segundo Lucas, o que autentica o escrito é a procedência da Tradição da qual se colheu o que foi escrito. Assim, o Evangelho lucano é veraz porque está embasado na verdadeira Tradição, a Tradição dos apóstolos, os ouvintes diretos do Senhor. Não é o escrito que dá validade ao oral, mas o contrário: é o oral que autentica o escrito.
Aconteceu aqui exatamente o que ocorreria nesta suposição a seguir: imaginemos que sobre o presidente da república fossem levantados vários boatos. Um pesquisador, no entanto, diante de tantos comentários decidisse investigar os fatos e depois de uma completa averiguação escrevesse tais fatos para alguém, dizendo que o que ele vai narrar é a verdade, pois ele fez uma minuciosa investigação. Perguntamos: está esse pesquisador afirmando que seus escritos são a única fonte verdadeira ou está dizendo que o escrito e o que foi colhido das testemunhas constituem essa fonte fidedigna?
Não se vê que o escrito apenas confirma a veracidade do testemunho ocular?
Note-se que Lucas não escreveu seu evangelho para invalidar a Tradição que recebera, mas apenas para confirmar, como vimos, a veracidade desta mesma Tradição. Isso é apenas a confirmação das palavras de Paulo em 2 Ts 2, 14.15 que diz que o oral e o escrito devem ser conservados.
Além disso: Lucas não está dizendo que o oral só é reconhecido como autêntico quando vem escrito, pois com certeza os ensinos citados eram autênticos, mesmo antes de serem relatados ou mesmo que não o fossem. Ou será que Lucas colheu erros dos apóstolos e os transformou miraculosamente em verdades? Ou será que os apóstolos só falaram a verdade ao escreverem? E suas pregações? Eram falsas? E o que dizer de 1Ts 2, 3.4, no qual S. Paulo claramente afirma a infalibilidade de suas pregações orais?
Ainda: a afirmação de que Teófilo não conseguiria sozinho distinguir a verdadeira da falsa tradição, não é um tremendo golpe no livre-exame? E por consequência na Sola Scriptura, já que aquela está embutida nesta? Por que Lucas teve que investigar essas verdades dos apóstolos? Não prova isso uma submissão à autoridade apostólica?
Afirmar que somente pelo escrito é que Teófilo conheceria a verdade, complica a situação do pastor, pois leva-nos a perguntar: e a situação do próprio Lucas? Se o oral não é fidedigno, por que Lucas baseou-se nele? Além disso, se Teófilo só conheceria a verdade sobre Cristo pelo escrito, e Lucas, por que esse evangelista descobriu essa verdade, passada a Teófilo, pela via oral, quando ainda não havia escrito o seu Evangelho?
Se Lucas está desconfiando de algo, e de fato está, esse algo não é a Tradição, mas as tradições orais e escritas daqueles que não levaram em consideração a Tradição dos apóstolos. Logo, Lucas não desmerece a importância da Tradição apostólica para aquilo que ele compôs. A preocupação de Lucas é exatamente a mesma de Papias, escritor do 2º século: ”Não andei procurando inovadores de idéias peregrinas, mas o código divino da fé, promulgado pela mesma verdade. Se eu me encontrava com quem tinha convivido com presbíteros, procurava conhecer-lhes as sentenças, o que tinham dito André ou Pedro, Filipe ou Tiago, João ou Mateus, ou algum outro dos discípulos do Senhor. Estava persuadido de que o proveito tirado das leituras não poderia estar em confronto com o que eu conseguia da palavra viva e sonora” (Euseb., Hist. Eccl. 3, 39, Migne, 20, 297). Esse testemunho de Papias bem como o de Lucas contradizem totalmente a Sola Scriptura, pois esta nega a Tradição como suporte para a escrita. Em outras palavras, eles estão dizendo que o escrito e o oral são dignos de credibilidade.
Um outro detalhe importante nesse contexto de Lucas é o que ele afirma no 3º versículo “também a mim, me pareceu bem…escrevê-los para ti…”. Ora, se Lucas pretendeu escrever um livro que segundo os solascripturistas seria a única regra de fé, por que, porém, o evangelista diz que escreveu tão somente porque lhe pareceu bem? E mais: e por que ele escreveu para uma pessoa particular, no caso, Teófilo, e não para a Igreja inteira? Não se vê o caráter circunstancial do escrito lucano? Não se vê por aí que o evangelista não escreveu para fazer um livro que se tornaria a única regra de fé?
Quando o Evangelista diz no versículo 4 que escreveu para que Teófilo “tenha solidez dos ensinos que ele recebera”, não está dizendo que somente o escrito daria solidez à fé de Teófilo. Lógico que não. Qualquer leitor vê que isso não pode ser concluído do texto. Primeiro, notemos que Lucas fala em ensino que Teófilo já havia “recebido”, o que prova o caráter oral e autoritativo da mensagem cristã. Segundo, observe-se que o Evangelista está apenas dizendo que escreveu, baseado no testemunho dos apóstolos, testemunhas oculares, para confirmar a veracidade daquilo que Teófilo já recebera via oral. E o que garante a veracidade do que Lucas escreveu? O escrito por si só? Não! O que garante a veracidade de seus escritos é a fonte na qual ele se fundamentou: o testemunho oral das testemunhas oculares, a saber, os apóstolos.
Logo, Lucas também não ensinou Sola Scriptura. E se nem Lucas nem Paulo ensinaram Sola Scriptura, então, essa doutrina não é bíblica. E se não é bíblica deve ser rejeitada, pois como enuncia o próprio conceito sola scripturista: só é aceitável aquilo que consta na Bíblia.
Portanto, adeus Sola Scriptura !!!!!!!!!

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