sábado, 24 de janeiro de 2015

CARTILHAS DA CATEQUESE 2015 PARTE II



1.    BREVE HISTÓRIA DO CATECUMENATO E REALIDADE ATUAL

1.   A partir de Pentecostes a Igreja cresceu através de um processo de iniciação. Numa sociedade ainda não marcada pela cultura cristã, pessoas aderiam ao projeto do Reino tornando-se discípulas. Essa iniciação foi bem feita, sustentou mártires e possibilitou a expansão do Evangelho pelo mundo. Mesmo quando ainda não eram tantos, os cristãos eram firmes o bastante para que o império, que a princípio os perseguia, os aceitasse e mais tarde até os tornasse representantes da “religião oficial”. Não se consegue isso com cristãos só de nome. Foi preciso uma sólida iniciação, para vencer tempos difíceis.
2.    O caminho da iniciação ficou evidente, a partir do século II, com a estruturação do catecumenato para promover a introdução dos novos convertidos na vida da Igreja. O objetivo era o aprofundamento da fé, como adesão pessoal a Jesus Cristo e a tudo que ele revela. Era o caminho ordinário para conduzir principalmente os adultos (e não as crianças) aos mistérios divinos, à profissão de fé e à participação na comunidade.
3.    Quando o cristianismo começou a ser religião aceita e, posteriormente tornada religião oficial do Império (com Constantino e Teodósio), o catecumenato foi reduzido à Quaresma até desaparecer e ser substituído pelo Batismo de massa. Ser cristão começa a ser situação comum e abre-se a possibilidade do batismo ministrado às crianças. No século VI desaparece o catecumenato propriamente dito; catequese e liturgia se distanciam e a catequese vai se dirigindo às crianças. Era natural também que, numa sociedade nominalmente cristã, a “iniciação” fosse feita por imersão no próprio ambiente cultural. Iniciava-se o longo período do catecumenato social no contexto da cristandade.
4.    Jesus respondeu aos que o buscavam: “Vinde e vede!”. Eles foram, viram, se encantaram com o que vivenciaram, ficaram, aprenderam, depois partiram em missão com a vida transformada para sempre. A iniciação à vida cristã supõe uma comunidade que passe no teste do “Vinde e vede”. Iniciação não é só aprendizado de doutrina. É inserção na totalidade da experiência de fé dentro de uma comunidade em que se identifica a presença ativa do fermento do evangelho e a força transformadora do amor de Jesus.
5.   Jesus, ao falar do Reino, chama-o de mistério: “A vós é confiado o mistério do Reino de Deus” (Mc 4,11; cf. Mt 13,11; cf. Lc 8,10). Ser cristão é participar desse mistério e se comprometer com ele. Requer uma mudança de vida, é fruto de experiência, não apenas de conhecimento. Mistério é a realidade do Reino de Deus presente em Jesus.
6.   A mensagem cristã apresentada como mistério leva naturalmente à realidade da iniciação. No nosso imaginário o mistério carrega em si algo de fascinante, sublime, surpreendente, deslumbrante, inacessível ao simples mortal; enfim, algo de divino, de fantástico e espantoso. O mistério é um segredo que se manifesta somente aos iniciados. Diferentemente de outros conhecimentos ou práticas, não se tem acesso ao mistério através de um ensino teórico, ou com a aquisição de certas habilidades. Para ter acesso aos divinos mistérios a pessoa precisa, de uma maneira ou de outra, ser iniciada a essas realidades maravilhosas através de experiências que a marcam profundamente.
7.   O Documento de Aparecida é enfático ao falar da necessidade urgente de assumir o processo iniciático na evangelização: “Ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as para seu seguimento, ou não cumpriremos nossa missão evangelizadora. Tarefa irrenunciável de oferecer modalidade de iniciação cristã,” (nº 287-294).
8.   A restauração do catecumenato, solicitada pela Igreja (cf. CD 14, SC 64-68 e AG 14), com a devida enculturação, quer retomar a dimensão mística e de celebração da catequese, considerando que um dos aspectos essenciais da educação da fé é levar as pessoas a uma autêntica experiência cristã, na integridade de suas várias dimensões.

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