1.
BREVE HISTÓRIA DO CATECUMENATO E REALIDADE ATUAL
1.
A partir de Pentecostes a Igreja cresceu através de um processo de iniciação.
Numa sociedade ainda não marcada pela cultura cristã, pessoas aderiam ao
projeto do Reino tornando-se discípulas. Essa iniciação foi bem feita, sustentou mártires e possibilitou a
expansão do Evangelho pelo mundo. Mesmo quando ainda não eram tantos, os
cristãos eram firmes o bastante para que o império, que a princípio os
perseguia, os aceitasse e mais tarde até os tornasse representantes da
“religião oficial”. Não se consegue isso com cristãos só de nome. Foi preciso
uma sólida iniciação, para vencer tempos difíceis.
2.
O caminho da iniciação ficou evidente, a
partir do século II, com a estruturação do catecumenato
para promover a introdução dos novos convertidos na vida da Igreja. O objetivo
era o aprofundamento da fé, como adesão pessoal a Jesus Cristo e a tudo que ele
revela. Era o caminho ordinário para conduzir principalmente os adultos (e não as crianças) aos
mistérios divinos, à profissão de fé e à participação na comunidade.
3.
Quando
o cristianismo começou a ser religião aceita e, posteriormente tornada religião
oficial do Império (com Constantino e Teodósio), o catecumenato foi reduzido à Quaresma
até desaparecer e ser substituído pelo
Batismo de massa. Ser cristão começa a ser situação comum e abre-se a
possibilidade do batismo ministrado às crianças. No século VI desaparece o
catecumenato propriamente dito; catequese e liturgia se distanciam e a
catequese vai se dirigindo às crianças. Era natural também que, numa sociedade nominalmente
cristã, a “iniciação” fosse feita por imersão no próprio ambiente cultural.
Iniciava-se o longo período do catecumenato social no
contexto da cristandade.
4.
Jesus
respondeu aos que o buscavam: “Vinde e vede!”. Eles foram, viram, se encantaram com o que vivenciaram, ficaram,
aprenderam, depois partiram em missão com a vida transformada para sempre.
A iniciação à vida cristã supõe uma comunidade que passe no teste do “Vinde e
vede”. Iniciação não é só aprendizado de doutrina. É inserção na totalidade da experiência de fé dentro de uma comunidade
em que se identifica a presença ativa do fermento do evangelho e a força
transformadora do amor de Jesus.
5.
Jesus, ao falar do Reino, chama-o de mistério:
“A vós é confiado o mistério do Reino de Deus” (Mc 4,11; cf. Mt 13,11;
cf. Lc 8,10). Ser cristão é
participar desse mistério e se comprometer com ele. Requer uma mudança de vida,
é fruto de experiência, não apenas de
conhecimento. Mistério é a realidade do Reino de Deus presente em Jesus.
6.
A mensagem cristã apresentada
como mistério leva naturalmente à realidade da iniciação. No nosso
imaginário o mistério carrega em si algo
de fascinante, sublime, surpreendente, deslumbrante, inacessível ao simples
mortal; enfim, algo de divino, de fantástico e espantoso. O mistério é um segredo que se manifesta somente
aos iniciados. Diferentemente de outros conhecimentos ou práticas, não se
tem acesso ao mistério através de um ensino teórico, ou com a aquisição
de certas habilidades. Para ter acesso aos divinos mistérios a pessoa
precisa, de uma maneira ou de outra, ser iniciada a essas realidades
maravilhosas através de experiências que
a marcam profundamente.
7.
O
Documento de Aparecida é enfático ao falar da necessidade urgente de assumir o processo iniciático na
evangelização: “Ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em contato
com Jesus Cristo e convidando-as para seu seguimento, ou não cumpriremos nossa
missão evangelizadora. Tarefa irrenunciável de oferecer modalidade de
iniciação cristã,” (nº 287-294).
8.
A restauração do catecumenato, solicitada pela Igreja (cf. CD 14, SC 64-68 e AG 14), com a devida enculturação, quer
retomar a dimensão mística e de
celebração da catequese, considerando que um dos aspectos essenciais da
educação da fé é levar as pessoas a uma autêntica experiência cristã, na integridade de suas várias
dimensões.
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