sábado, 24 de janeiro de 2015

CARTILHA DA CATEQUESE 2015 PARTE I



1.    INTRODUÇÃO

Não nascemos cristãos, mas tornamo-nos cristãos”, (Tertuliano, escritor do século II).
“Conhecer Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber;
tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas,
e fazê-lo conhecido com nossas palavras e obras é nossa alegria”, (DAp 29 e IVC 167).

A Iniciação Cristã (IC) é um processo unitário litúrgico-catequético para a iniciação da fé; um processo através do qual a pessoa é inserida no mistério de Cristo, morto e ressuscitado, se torna discípula de Cristo e em seguida é admitida aos sacramentos do Batismo, da Crisma e da Eucaristia. O processo da IC é maior do que a catequese, que é a serviço da IC e é só um dos momentos da IC. “A IC que inclui o kerygma é a maneira pratica de colocar alguém em contato com Jesus e iniciá-lo no discipulado”, (DAp 288).
“Sentimos a urgência de desenvolver em nossas comunidades um processo de iniciação na vida cristã que comece pelo kerygma e, guiado pela Palavra de Deus, conduza a um encontro pessoal, cada vez maior, com Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito homem, experimentado como plenitude da humanidade e que leve à conversão, ao seguimento em uma comunidade eclesial e a um amadurecimento de fé na prática dos sacramentos, do serviço e da missão”, (DAp 289).
A Iniciação Cristã acontecia através de um método chamado catecumenato. Este método marcou os primeiros tempos da Igreja e levava a pessoa a fazer uma experiência profunda com Jesus Cristo e seu reino. Não era apenas dá noções dos valores evangélicos e em seguida receber os sacramentos ou ingressar em um grupo, era um verdadeiro encontro, uma experiência de vida que encantava, empolgava, apaixonava a pessoa, no amor a Deus e aos irmãos.
Também hoje, iniciar à vida cristã é mergulhar na pessoa de Jesus, porque a vida cristã não é uma doutrina, não é uma filosofia, não é um código moral. Não se pode falar de curso para o Batismo, curso para a primeira Eucaristia. A catequese é para inserir na comunidade, na vida da Igreja: não é a preparação para um sacramento, mas para a vida cristã. “Aqueles que receberam de Deus por meio da Igreja a fé em Cristo, sejam admitidos ao catecumenato, mediante a celebração de cerimônias litúrgicas; o catecumenato não é mera exposição de dogmas e preceitos, mas uma formação e uma aprendizagem de toda a vida cristã, prolongada de modo conveniente, por cujo meio os discípulos se unem com Cristo, seu mestre”, (AG 14).
Etimologicamente a palavra “iniciação” vem do latim “in-ire”, ou seja, ir para dentro; donde: “ïn-iter”, ou seja, ingresso, en-caminhamento. Iniciação é o processo que coloca alguém na condição de entrar num novo estado de vida, numa comunidade.
Conforme o célebre texto de Atos 2,42-47, o aprendizado da vida cristã, realizado no seio mesmo da comunidade, compreende estas quatro dimensões básicas:
1) O ensino dos Apóstolos: conhecimento e adesão à Mensagem - Kerygma
2) Vida de comunhão: uma fraternidade conforme o Evangelho – Koinonia 
3) Frequência da Fração do Pão, Oração: celebração da Páscoa do Senhor - Liturgia
4) Partilha dos bens: “tinham tudo em comum” - serviço ao irmão - Diakonia
“A paróquia precisa ser o lugar onde se assegure a iniciação cristã e terá como tarefas irrenunciáveis: iniciar na vida cristã os adultos batizados e não suficientemente evangelizados; educar na fé as crianças batizadas em um processo que as leve a completar sua iniciação cristã; iniciar os não batizados que, havendo escutado o kerygma, querem abraçar a fé”, (DGAE 2008-2010 n. 63; citando DAp 293).
Muitas vezes “iniciação cristã” e “catecumenato” são tomados hoje como sinônimos; entretanto, faz-se necessário uma distinção, uma vez que a iniciação põe o acento no sacramental e o catecumenato está relacionado com a catequese. O catecumenato se define como processo educativo-cristão, demarcado por tempos e etapas, dirigido a convertidos, no seio de uma comunidade eclesial, por meio de uma regeneração sacramental.
A iniciação Crista é um processo, porque assinalado por etapas sucessivas, e desenvolve-se de forma progressiva. Este processo é unitário porque os três sacramentos (Batismo, Crisma, Eucaristia) são um só (cf. IVC 87). Precisa compreender a mútua relação e a unidade de sentido entre os três, superando a fragmentação e a desarticulação na catequese. Os três sacramentos tem uma única finalidade: a maturidade em Cristo.
“A catequese não é uma supérflua introdução na fé, um verniz ou um cursinho de admissão à Igreja. É um processo exigente, um itinerário prolongado de preparação e compreensão vital, de acolhimento dos grandes segredos da fé (mistérios), da vida nova revelada em Cristo Jesus e celebrada na liturgia”, (DNC 37).
“A finalidade da catequese é aprofundar o primeiro anúncio do Evangelho; levar o catequizando a conhecer, acolher, celebrar e vivenciar o mistério de Deus, manifestado em Jesus Cristo, que nos revela o Pai e nos envia o Espírito Santo. Conduz a entrega do coração a Deus, à comunhão com a Igreja, corpo de Cristo”, (DNC 43).
Sujeito da evangelização é toda a comunidade, principalmente os adultos em geral e os pais: “O que nós ouvimos, o que aprendemos, o que nossos pais nos contaram, não ocultaremos a seus filhos; mas vamos contar à geração seguinte as glórias do Senhor, o seu poder e os prodígios que operou”, (Sal 78 (79)).
Fontes da catequese são a Bíblia e a Tradição: “A catequese há de haurir sempre o seu conteúdo na fonte viva da Palavra de Deus, transmitida na Tradição e na Sagrada Escritura, porque a Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só depósito inviolável da Palavra de Deus, confiada à Igreja”, (CT 27 e DGC 95-96).
Três exigências da catequese: “É preciso para a solidez da educação da fé e para edificar personalidades e comunidades cristãs maduras, coerentes, que o conteúdo da Catequese seja unitário, orgânico e integral”, (CR 94). “Aqueles que se tornam discípulos de Cristo têm o direito de receber a Palavra da fé não mutilada, falsificada ou diminuída, mas sim plena e integral, com todo o seu rigor e com todo o seu vigor. Atraiçoar em qualquer ponto a integridade da mensagem é esvaziar perigosamente a própria catequese e comprometer os frutos que Cristo e a comunidade eclesial têm o direito de esperar dela”, (CR 99, citando CT 30). “Outra exigência, que explicita e complementa as duas primeiras, é a da hierarquia das verdades. Na formulação de sua mensagem, a Igreja sempre reconheceu a prioridade de algumas: isto não significa que algumas verdades pertençam à fé menos que outras, mas que algumas verdades se fundam sobre outras mais importantes, e são por elas iluminadas”, (CR 100 ; DGC 111-115 e DNC 127-131).
Podemos acrescentar com uma quarta exigência, lembrando que a catequese deve ser permanente, isto é: acompanha todos os momentos da vida cristã, perseguindo o sempre melhor conhecimento dos mistérios de Cristo e da sua Igreja. “A catequese não deve ser só ocasional, reduzida a momentos prévios aos sacramentos ou à iniciação cristã, mas sim um itinerário catequético permanente”, (DAp 298).
Daqui nasce também a exigência da continuidade da catequese: se falta um catequista outro ajuda; em ocasiões especiais quando pode até faltar a maior parte deles (concursos públicos, formações, eleições) a catequese acontecerá reunindo os diferentes grupos numa única sala, mas sempre vai ter catequese.
Foi assim no começo da Igreja (Jo 1,38-45): Jesus formou discípulos, devagar. Houve um primeiro chamado, um aprendizado e um convívio. Houve etapas na missão, um envio, aprofundamentos. Mas mesmo assim não estavam totalmente prontos para a tarefa de ser Igreja até que viveram a experiência do mistério pascal.
Tudo começa com uma busca (cf. Jo 1,38): “Que procurais?” pergunta Jesus; isso gera um encontro (cf. Jo 1,38-39): “Onde moras?” dizem eles. No fundo estão perguntando: “Como te conheceremos melhor?” Jesus responde: “Vinde e vede!”; e produz conversão: eles vão, vêem... e decidem segui-lo. O processo vai produzindo comunhão: permaneceram com ele (cf.Jo 1,39), que leva à missão: cada discípulo atrai outros (cf. Jo 1,40-41.45), para anunciar juntos a boa nova (cf. Mc 3,14 e cf. Jo 17,20-23) e fazer discípulos em todos os povos (cf. Mt 28, 19).

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