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“Por desígnio eterno e amoroso do Pai, Cristo veio ao mundo para consagrar-nos, introduzindo-nos no âmbito mais íntimo do Sagrado, que é Ele mesmo, comunicando-nos Sua própria filiação divina(Cristo nos faz Ele , e somos feitos por Graça aquilo que Ele é por natureza: filhos de Deus). Desde sempre, Deus nos pensou e nos elegeu na Pessoa de Cristo, por pura iniciativa Sua, para que fôssemos verdadeiramente filhos seus, santos e consagrados em Sua presença pelo amor”(Dic. Teológico da vida consagrada, Paulus, 1989, p.248).
Deus, por meio do Batismo, nos faz , em Cristo, filhos Seus e irmãos de todos os homens. Ele nos “configura” a Cristo, ou seja, começa em nós um processo para nos levar a viver a vida de Cristo, tanto em sua condição filial como fraterna. Entrando em nova relação interpessoal com Deus, vive agora a vida das três pessoas divinas. É Filho de Deus, no Filho e pela ação do Espírito. E o que faz um filho de Deus, que recebe do Pai tudo o que o Pai é? Deve dar-se inteiramente ao Pai. E se está NO FILHO, e pela ação do Espírito, o faz como o Filho fez. “Pelo Batismo, Jesus comparte sua vida com cada cristão; cada um é santificado no Filho; cada um é chamado à santidade; cada um é chamado a compartir a missão de Cristo, com capacidade de crescer no amor e no serviço do Senhor. Este dom batismal é a consagração fundamental cristã, e vem a ser a raiz de todas as outras”(EE 6).
“Nos diversos gêneros de vida e nas diversas profissões, há uma só santidade, cultivada pelos que são movidos pelo Espírito de Deus e, obedientes à voz do Pai e adorando em Espírito e em verdade a Deus Pai, seguem a Cristo pobre, humilde e sobrecarregado com a Cruz, para merecer, e ser participantes de sua glória. Cada um, segundo seus próprios dons e graças, deve progredir sem demora pelo caminho da fé viva, que acende a esperança e age por meio da caridade”(LG,n.41).
Cada batizado é chamado a seguir Jesus, a deixar que o Espírito Santo construa em seu ser uma unidade cada vez maior com a Pessoa de Jesus cristo. É deixar que seja aumentado cada vez mais em seu coração o desejo de ser semelhante a Jesus em tudo. E não só desejar, mas aceitar que na sua própria vida os acontecimentos, as pessoas, os apelos interiores da Graça o levem a uma atitude concreta, a um “sim” concreto a Deus. Assim, a vida de Jesus pode transparecer na vida de cada cristão, assim a Graça pode realizar totalmente o seu trabalho de santificação na vida de cada homem e mulher, chamados por Deus a seguir Jesus.
“Ao vir a este mundo, Cristo se despojou de si mesmo, tomando a condição de servo, fazendo-se semelhante aos homens e aparecendo em seu porte como homem, e se esvaziou de si mesmo obedecendo até a morte, e morte de Cruz (Fl 2,7-8). Não se apresentou com a glória que lhe correspondia como a filho natural de Deus. Tomou uma carne como a nossa, chegando seu aniquilamento até à morte de Cruz. Parte essencial desse aniquilamento, pelo qual sacrifica e consagra sua natureza humana, é a obediência, e o é igualmente a pobreza e a virgindade. Cristo na Encarnação, e desde a Encarnação, renuncia ao brilho, ao poder, à glória e à majestade, não faz valer seus direitos e se apresenta em estado de fraqueza. Deste modo, desanda o caminho percorrido pôr Adão, o qual fez alarde de uma categoria que lhe correspondia, e fez valer direitos que não possuía. Como toda a vida de Jesus foi um estado de virgindade, de pobreza, e de obediência, na realidade toda a sua vida foi aniquilamento contínuo, e esvaziamento de si mesmo – Kénosis – vale dizer, sacrifício perene e processo ininterrupto de consagração. Deste modo, sua natureza humana foi superando sua condição carnal, vencendo sua índole terrena e alcançando a transparência da divindade. Sem deixar de ser carne, em virtude da morte e da Ressurreição, Cristo se torna Espírito vivificante (I Cor 15,49), e sua carne é pneumática ou espiritual, isto é, totalmente invadida pelo Espírito, e por isso mesmo, fonte de vida espiritual para os homens.
Todo cristão é chamado a viver, em seu próprio estado de vida, os conselhos evangélicos. Todos somos chamados à pobreza evangélica, convidados a nos despojar voluntariamente em favor dos necessitados. E este despojamento não deve ser apenas material, mas um despojamento pessoal, um despojamento de nossa própria vida. Somos chamados a dar também nosso tempo, nossos talentos, nosso trabalho, nossos gestos, nossa pessoa em favor de Deus e do próximo. Todos somos chamados a uma vida casta, a ter Deus como primeiro objeto dos nossos afetos, para que o amor ao próximo possa ser iluminado pelo amor a Deus, nosso fim último, para que possamos amar mais e melhor os nossos irmãos e nos doar a eles. Somos também chamados a obedecer a deus, à Sua vontade, à Sua Palavra, à Palavra da Igreja, e às autoridades às quais nos confiou Deus.
Nossa Senhora, consagrada já desde o início de sua existência pela conceição imaculada, que supõe não só a ausência total de pecado, mas a plenitude inicial da Graça, é consagrada de novo pela Graça da Maternidade Divina, na encarnação, sendo toda ela introduzida vitalmente no âmbito da Trindade. Maria foi invadida pelo Espírito, associada à paternidade do Pai e unida de modo excepcional ao Filho, a quem gera, por ação geradora própria, segundo a natureza humana. e nesse momento mesmo, inicia também ela, todo um processo de aniquilamento – de consagração – que dura toda a sua vida e que culmina na Assunção gloriosa aos Céus. Maria Virgem, como Jesus Cristo, apresenta-se como mulher qualquer; proclama-se a si mesma serva, quando é verdadeiramente, e quando outros a chamam Senhora e Rainha; não faz valer seus direitos. Deste modo, com Seu Filho, desanda o caminho percorrido por Eva e desfaz o nós da desobediência e da incredulidade que Eva atara. Maria, vivendo na virgindade – pobreza – obediência, viveu em sacrifício de si mesma e em auto doação a deus e aos homens. Por isso, justamente, é chamada ‘modelo e amparo de toda vida consagrada.
(…) Cristo, desde o primeiro instante de sua vida temporal vive a si mesmo totalmente um sacrifício, em oblação, em auto doação ao Pai. Seu sacrifício é constituído, antes de tudo, por esta auto doação pessoal. É isto que caracteriza e confere valor único a um sacrifício.(…)O batismo é ato que gera um processo. Por ele morremos ao pecado e começamos a morrer às raízes de pecado que ficam e nós, até que a morte de Cristo tenha ‘mortificado” todo o pecaminoso e tenha consagrado todo o profano. E por isso começamos a viver verdadeiramente a vida nova e eterna, até que esta chegue à sua plenitude no Céu. A consagração batismal supõe presença ativa e permanente de Deus em nós, uma espécie de presença sacerdotal que nos transforma em oferenda e em sacrifício, e que nos faz posse plena de Deus (…) O processo de configuração com Cristo se concluirá em nossa ressurreição gloriosa, quando inclusive se manifestar a glória de nossa filiação divina.
(…) O cristão pode ser definido como uma representação sacramental (visível, verdadeira e real) de Cristo em sua condição filial e fraterna. Ou dito de forma mais explícita: o cristão é pessoa humana – homem ou mulher – chamado por vocação divina especial, consagrada por Deus mediante o Sacramento do Batismo – e da Confirmação – – ou seja, configurada realmente com Cristo em sua filiação divina e mariana e em sua fraternidade universal, para torná-lo de novo visivelmente presente no mundo nesta dupla dimensão de sua existência”. (Dic. Teol. de vida consagrada, Paulus 1989, p.247″e p. 249).
VIDA CONSAGRADA
O conceito teológico de que a santidade dos cristãos é una, embora ao mesmo tempo diversificada e diferenciada, encontra-se também no n. 42 da Lumen Gentium, sobre o caminho e os meios de santidade:
” …a Mãe Igreja rejubila por encontrar em seu seio muitos homens e mulheres que seguem mais de perto a aniquilação do Salvador e a manifestam mais claramente, abraçando a pobreza, com a liberdade dos filhos de Deus, e renunciando à sua vontade própria: por amor de Deus, submetem-se ao homem em matéria de perfeição, indo mais além do que está preceituado – querem conformar-se mais plenamente com Cristo obediente “.
“Assim, pois, santo é aquele que no âmbito de suas limitadas, porém irrepetíveis características, qualidades e circunstâncias pessoais e dentro de sua vocação e da Graça que Deus lhe deu “segundo a medida da doação de Cristo” (Ef 4,7), se abre e corresponde à Graça que lhe foi concedida e, conformando-se com Cristo, vive nele a forma de vida que lhe foi dada” (Dic. de Espiritualidade, Paulus, 1993, p.1035).
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