"1. A Igreja vive da Eucaristia. Esta verdade não
exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém em síntese o próprio núcleo do mistério da Igreja.
É com alegria que ela experimenta, de diversas maneiras, a realização
incessante desta promessa: « Eu estarei sempre convosco, até ao fim do
mundo » (Mt 28, 20); mas,
na sagrada Eucaristia, pela conversão do pão e do vinho no corpo e no sangue do
Senhor, goza desta presença com uma intensidade sem par. Desde o Pentecostes,
quando a Igreja, povo da nova aliança, iniciou a sua peregrinação para a pátria
celeste, este sacramento divino foi ritmando os seus dias, enchendo-os de
consoladora esperança.
O Concílio Vaticano II justamente afirmou que o
sacrifício eucarístico é « fonte e centro de toda a vida cristã ».(1)Com efeito, « na santíssima Eucaristia,
está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a
nossa Páscoa e o pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne
vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo ».(2) Por isso, o olhar da Igreja volta-se
continuamente para o seu Senhor, presente no sacramento do Altar, onde descobre
a plena manifestação do seu imenso amor."
"8. Quando penso na Eucaristia e olho para a minha
vida de sacerdote, de Bispo, de Sucessor de Pedro, espontaneamente ponho-me a
recordar tantos momentos e lugares onde tive a dita de celebrá-la. Recordo a
igreja paroquial de Niegowić, onde desempenhei o meu primeiro encargo pastoral,
a colegiada de S. Floriano em Cracóvia, a catedral do Wawel, a basílica de S.
Pedro e tantas basílicas e igrejas de Roma e do mundo inteiro. Pude celebrar a
Santa Missa em capelas situadas em caminhos de montanha, nas margens dos lagos,
à beira do mar; celebrei-a em altares construídos nos estádios, nas praças das
cidades... Este cenário tão variado das minhas celebrações eucarísticas faz-me
experimentar intensamente o seu carácter universal e, por assim dizer, cósmico.
Sim, cósmico! Porque mesmo quando tem lugar no pequeno altar duma igreja da
aldeia, a Eucaristia é sempre celebrada, de certo modo, sobre o altar do mundo. Une o céu e a terra. Abraça e impregna
toda a criação. O Filho de Deus fez-Se homem para, num supremo acto de louvor,
devolver toda a criação Àquele que a fez surgir do nada. Assim, Ele, o sumo e
eterno Sacerdote, entrando com o sangue da sua cruz no santuário eterno,
devolve ao Criador e Pai toda a criação redimida. Fá-lo através do ministério
sacerdotal da Igreja, para glória da Santíssima Trindade. Verdadeiramente este
é o mysterium fidei que se
realiza na Eucaristia: o mundo saído das mãos de Deus criador volta a Ele
redimido por Cristo."
"11. « O Senhor Jesus, na noite em que foi
entregue » (1 Cor 11, 23),
instituiu o sacrifício eucarístico do seu corpo e sangue. As palavras do
apóstolo Paulo recordam-nos as circunstâncias dramáticas em que nasceu a
Eucaristia.Esta tem indelevelmente inscrito nela o evento da paixão e morte do
Senhor. Não é só a sua evocação, mas presença sacramental. É o sacrifício da
cruz que se perpetua através dos séculos.(9) Esta verdade está claramente expressa nas
palavras com que o povo, no rito latino, responde à proclamação « mistério
da fé » feita pelo sacerdote: « Anunciamos, Senhor, a vossa morte ».
A Igreja recebeu a Eucaristia de Cristo seu Senhor,
não como um dom, embora precioso, entre muitos outros, mas como o dom por excelência, porque dom
d'Ele mesmo, da sua Pessoa na humanidade sagrada, e também da sua obra de
salvação. Esta não fica circunscrita no passado, pois « tudo o que Cristo
é, tudo o que fez e sofreu por todos os homens, participa da eternidade divina,
e assim transcende todos os tempos e em todos se torna presente ».(10)
Quando a Igreja celebra a Eucaristia, memorial da
morte e ressurreição do seu Senhor, este acontecimento central de salvação
torna-se realmente presente e « realiza-se também a obra da nossa
redenção ».(11) Este sacrifício é tão decisivo para a
salvação do género humano que Jesus Cristo realizou-o e só voltou ao Pai depois de nos ter deixado o meio para dele
participarmos como se tivéssemos estado presentes. Assim cada fiel pode
tomar parte nela, alimentando-se dos seus frutos inexauríveis. Esta é a fé que
as gerações cristãs viveram ao longo dos séculos, e que o magistério da Igreja
tem continuamente reafirmado com jubilosa gratidão por dom tão inestimável.(12) É esta verdade que desejo recordar mais uma
vez, colocando-me convosco, meus queridos irmãos e irmãs, em adoração diante
deste Mistério: mistério grande, mistério de misericórdia. Que mais poderia
Jesus ter feito por nós?Verdadeiramente, na Eucaristia demonstra-nos um amor
levado até ao « extremo » (cf. Jo
13, 1), um amor sem medida."
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